Mais um lindo livro que termino de ler

Cada um tem seus critérios de leitura. Livro bom pra mim é aquele que, em primeiro lugar é muito, mas muito bem escrito. Que tem um texto apaixonando. O texto é a primeira exigência que tenho. A segunda é o conteúdo. Não há conteúdo por melhor que seja que sobreviva a um texto ruim. Assim como tem gente que tem um texto ótimo, mas não sabe construir histórias ou criar ficção. Criar ficção não tem nada com saber escrever um bom texto. Na minha opinião.

Além disso um livro bom pra mim é aquele que me traz alguma coisa nova, um ensinamento, vocabulário, reflexão, informação, qualquer coisa que me impacta ou emociona, que adiciona algo pra minha vida.

Acabei de ler agora um livro assim, O Caderno de Maya, de Isabel Allende.

 

Gosto muito de ler Isabel Allende, desde que conheci há muitos e muitos anos a obra prima ‘A Casa dos Espíritos’, um dos meu favoritos de todos os tempos.

Maya é filha de mãe Dinamarquesa com pai Chileno, criada pelos avós norte-americanos. Cresceu na Califórnia, fez um monte de bobagens na adolescência e foi parar numa ilha chamada Chiloé no Chile. A história se passa principalmente nesta ilha, com memórias dos outros lugares. As histórias vão se fundindo e se explicando. O livro é muito legal de ler, envolvente, maravilhoso. E tem aquela coisa que AMO em qualquer autor excelente, como Allende ou Ruy Castro: tem horas que leio construções e descrições tão sensacionais que tenho vontade de jogar o livro na parede, de amor, inveja e dor.  Dois exemplos do que estou falando:

“Pela mesma abertura que entra o amor, se infiltra o medo”.

“…essas  experiências de ___ devem ser tratadas com o mesmo cuidado e delicadeza que requer seu aneurisma, porque estão encapsuladas numa bolha de memória que, se estourar subitamente, poderá aquililá-lo.”

Quem pensa que pelo mesmo lugar que entra o amor, entra o medo de amar? Que lembranças dolorosas ficam encapsuladas numa bolha como um aneurisma mortal ao se romper? Coisa linda. O livro é todo assim.

O livro também me ensinou coisas que não sabia, como La Minga, por exemplo. Esse conceito antigo de ‘minga’ é um trabalho cooperado em que vizinhos se unem para uma determina tarefa que culmina com uma grande festa. Em Chiloé a minga mais famosa é a puxada, que consiste em transportar uma casa de lugar puxada por touros e bois, muitas vezes, levando a casa pelo mar, rebocada por barcos.

Quando li o trecho que descreve a casa com água até as janelas quase não acreditei. Graças à maravilhosa Mãe Internet e Santo Google e São YouTube, pude VER essa coisa pitoresca.

Aqui tem uma ‘tiradura de casa’ por terra e, abaixo, pelo mar.

 

(Aguente a musiquinha e as legendas horríveis, porque a imagem vale a pena)

A história também descreve uma refeição social preparada na brasa de pedras num buraco de um metro de diâmetro no chão, chamada Curanto. Parece uma paella com batatas e mariscos, recoberta por folhas, um assado de chão.

Recomendo demais o livro, apesar do preço. É caro, tem mais de 400 páginas, mas vale a pena.

Antes de terminar o post, uma confissão bem idiota da minha parte. NA orelha do livro tem uma foto de Isabel, recente. Ela está com aquela cara de mulher madura que fez uma plástica no rosto sem muito sucesso. Plástica só é boa quando você olha, sente que tem algo diferente, mas não sabe dizer o que é. Se você olha e diz ‘ah, plástica’, então não foi boa. Mas, né, quem sou eu na fila do pão pra dizer o que ela deve ou não deve fazer? Só sei que sou cheia de opiniões, sobre livros, cirurgias estéticas e tudo mais. E, no caso, o livro é imperdível. A cirurgia, dispensável.