
E começou.

Hoje é dia de falar de Facebook. Não é o dia D, mas o dia F. Na página de trends do Google, dois dos dez ítens referem-se ao site, Facebook -IPO e Eduardo Saverin, o fundador brasileiro que Mark Zuckerberg expulsou da sociedade.
No Twitter, em outras redes, nos sites e blogs todas as comparações e informações possíveis sobre Mark Zuckerberg e sua empresa:
. Zuckerberg é o novo Murdoch
. Zuckerber, aos 28 anos, é o 29o. mais rico do mundo
. Zuckerber mais rico que os fundadores do Google
. Fortuna de Zuckerberg é maior que o PIB do Afeganistão
Milhares de pessoas deixam comentários e likes na foto da página de Eduardo Saverin, brasileiro que renunciou à cidadania americana para economizar 2% de sua fortuna em impostos para o fisco americano. Todos querem se engajar, todos querem se envolver, todos querem participar. E essa é a chave do Facebook.
O Google não vai morrer, como aconteceu com as listas telefônicas. O Google sempre vai ser a secretária particular, a bibliotecária, o serviço de informação, o mapa da Internet, o grande guia cósmico para dizer o que está aonde. O buscador da informação esparramada. O Google também tem muitos serviços indispensáveis, como o Gmail, o YouTube, o Google Calendar, o Google Books, etc. Mas o Google é isso, um provedor de bons serviços. Nunca conseguiu ser bom socialmente, como se sua vocação fosse a de ser útil e prestar bons serviços, não de ser amigo.
Já o Facebook parece ter compreendido verdades universais sobre os seres humanos, antes mesmo de ser um grande negócio de 100 bilhões de dólares. Quando surgiu, nas fraternidades das universidades americanas, fez sucesso imediato. A vaidade pessoal, a curiosidade para bisbilhotar a vida alheia sem deixar rastro, a possibilidade de fazer contato com qualquer pessoa que estivesse catalogada, a chance de encontrar um parceiro pro sexo, tudo ali, à disposição, sempre à mão. Depois, começaram a surgir todas as outras novidades. Juntar um grupo de amigos conhecidos, reviver o passado de estudante, encontrar familiares, montar grupos de discussão. E jogar muitos joguinhos. Distrair-se. Falar pelo comunicador instantâneo, ver anúncios, comprar coisas. E, claro, ver muitas, MUITAS novidades e piadinhas visuais de momento.
O Facebook é um sucesso. Não quer dizer que seja genial, mas que entende o mercado de seres humanos. Tanto é que já já o site vai bater um bilhão de assinantes num mundo que tem 7 bilhões de pessoas.
Não me identifico com o Facebook, com seu visual padronizado, uniformizado. Não me sinto em casa com o tipo de ocupação, com os infinitos tios do pavê, as brincadeiras bobas, os posters motivacionais, as mensagens de anjinhos felizes com frases edificantes que mais me lembram meu Outlook em 1998. Mas, como disse uma aluna que também não gosta do FB, mesmo não gostando ‘não dá pra não estar no Facebook hoje em dia’. É possível, claro, sempre é. Mas não estar no Facebook é como ser comunista num mundo capitalista. Como ser ermitão num mundo conectado.
Para o mundo dos negócios, o Facebook é uma das melhores armas para anúncios. Você pode achar qualquer grupo de pessoas por qualquer tipo de classificação. É fascinante. E assustador. Com as novas Timelines, as vidas todas se espalham pelas páginas, prontas para virarem um obituário um dia. Tétrico.
Mas o valor do Facebook é que ele realmente cumpre MUITO bem a primeira metade do seu nome, aquela que diz respeito ao FACE. Com um bilhão de ocupantes podemos ver hoje a CARA do nosso mundo. Um mundo ingênuo, inseguro, injusto, apressado, confuso, faminto, ávido, estressado, desigual, egocêntrico. Infantil. Mesmo assim, apesar do que vemos, da cara do ser humano que o ‘face’ nos mostra, a ferramenta é um bom ponto de partida para mudarmos. Em busca de maturidade, igualmente, conhecimento, esperança.
Hoje, o valor desse poderoso serviço ainda está preso ao poder de todas as FACES, do desejo infinito de se exibir, do desespero por aparecer, das mentiras sociais. Não gosto. Não curto. Mas, que importância tem minha opinião ou sentimento diante da adesão de tantos facebookianos no planeta?
Vou continuar aqui, observando de fora. Usando o serviço sem paixão, mas também sem preconceito.
Acho que vou esperar um tempo. Quem sabe um dia o mundo deixa de ser tão FACE e começa a ser um pouco mais BOOK.
Por enquanto, ou especialmente hoje, o Face está menos cara e mais livro. Livro caixa.
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