Do seu jeito, do melhor jeito, de qualquer jeito

Existem muitas formas de descascar um ovo cozido.  No YouTube você encontrará algumas delas, como  o modo russo de tirar as cascas das pontas e soprar com vontade de lobo mau , a técnica de  rolar o ovo cozido na mesa para craquelar a casca antes de  colocá-lo na água gelada, o método que usa  uma mão só,  dançando o quadradinho de oito, etc.  Quase todos são unânimes sobre o lado certo de começar o processo de descascar o ovo, o lado mais gordinho, onde há um bolsão de ar.  Pesquisando vídeos sobre o tema encontrei uma forma bacana de distinguir um ovo cozido com casca de um ovo cru: girando-o.  Gire um ovo cozido e um ovo cru e veja a diferença.

A multiplicidade de técnicas se aplica a muitas coisas nessa vida, de descascar um alho a amarrar o laço do tênis. Certamente para cada uma dessas situações você já desenvolveu o seu jeito. Mas isso não impede que você aprenda jeitos melhores que o seu ou, caso exista, o  método  ideal de fazer alguma coisa.

Pelo lado racional a Internet seria o lugar certo para encontrarmos sempre o melhor jeito de fazer uma tarefa, seja dar um nó na gravata ou escovar os dentes. O que acontece é que em geral nossas decisões não são racionais e aí a gente faz do jeito que está acostumado, que aprendeu quando era pequeno, que a sua avó ensinou. Por motivos afetivos, por preguiça ou desinteresse, por desconhecimento,  fazemos um monte de coisas de formas toscas e que acabam nos causando problemas. E, em muitos casos isso nos leva a fazer as coisas do pior jeito, que é…de qualquer jeito.

É aquela hora em que você empurra a gaveta SABENDO que a coisa vai prender e da próxima vez que você for tentar abrir, vai dar merda.  É quando você coloca uma coisa no armário e fecha CIENTE de que ela vai cair na cabeça do próximo que abrir a portinha, à la Fred Flintstone guardando suas bolas de boliche.

Tem também o jeito errado que virou costume.  E, uma vez incorporado à rotina, passa a ser o único jeito de fazer algo embora totalmente equivocado. Exemplo? Lavar o cabelo. É bem provável que você esteja errando na hora de usar tanto o shampoo quanto o condicionador.

E por que a gente faz assim, mal feito, nas coxas, de forma consciente ou errado mesmo? Porque temos pressa, preguiça, porque achamos que aquela tarefa é perda de tempo, porque ela está abaixo da nossa capacidade e nos irrita fazer coisas que parecem idiotas, porque queríamos estar em outro lugar fazendo outra coisa mais proveitosa como jogar conversa fora no Twitter.

Isso acontece muito quando você tem que lavar a louça ou fazer faxina. A gente não quer fazer, entra em negação, foge, mas a louça não se lava sozinha. Nem que você tenha uma lavadora, você mesmo terá que colocar os pratos dentro.

Diante desses momentos inevitáveis o melhor a fazer (melhor em termos de energia psíquica) é aceitar o fato, saber que ele não vai durar para sempre e fazê-lo da forma mais eficiente, com o menor tempo e tirando algum proveito da tarefa. E, claro, com alguma diversão.

Faço isso com a louça. Organizo tudo antes de começar, separando metais, louças, vidros, talheres, plásticos. Estabeleço uma ordem de materiais a partir da melhor ocupação do secador de louças, por isso começo sempre com os pratos. E assim vou, escrevendo iniciais e desenhando ícones com o detergente na esponja, me distraindo com a ordem criada e com o orgulho de deixar tudo limpo. Sim, fazer isso todos os dias, o tempo todo é chato mesmo. Mesmo assim vale tentar amenizar todo sofrimento com alguma diversão.

Não sei o que você vai fazer agora, depois de ler este post, mas seja lá o que for, pense em cada um dos seus gestos. Veja se você está vivendo sua vida no automático ou no manual, se seus atos e atitudes são fruto do hábito ou da consciência, se você optou por sentar-se daquela forma ou apenas se jogou na cadeira. Se você está bebendo água porque está com sede ou porque precisa hidratar seu corpo. Se você lava as mãos de uma forma eficiente.

Porque, se você for pensar bem, deveríamos lavar as mãos antes e depois de usar o banheiro.  Depois  pra preservar o mundo da contaminação do nosso corpo e antes pra preservar o nosso corpo da contaminação do mundo.

Pense nisso.
Pense sempre que necessário, pra viver a vida sem pensar.

 

 

 

 

 

Esse ódio no seu coraçãozinho

Não,você não está errado. Você tem toda razão. É isso mesmo que você pensa, sente, acredita. Tudo correto. Mesmo assim não está dando certo. As coisas não vão bem, sua vida está longe do que você sonhou, as coisas não acontecem. Só os problemas acontecem. Cada vez mais.
Por que será?
Será que é pessoal? Será falta de sorte? O que poderia explicar isso que você percebe e é mesmo real, o fato de que coisas boas acontecem com pessoas que você sabe que não merecem enquanto coisas ruins acontecem com você, que faz tudo sempre corretamente?
Quem sou eu para responder.
Eu sou aquela que só pergunta.
E conjectura.
Por isso vou arriscar algumas hipóteses.

A primeira delas é que fazer tudo certo nunca foi garantia de nada. Você faz certo porque é sua natureza. Ou porque teme as consequências de fazer errado. E isso deveria bastar, a paz com a própria consciência, o bom resultado, a falta de punição. Mas você faz para ganhar o céu ou o aplauso. Aí perde a garantia. Garantia de céu só para os bons, só pra quem faz de coração e acredita. E, mesmo assim, parece que tem uma cláusula que garante o céu só depois que a gente desencarnar. Só botando muita fé na recompensa. Por enquanto, melhor fazer certo porque se é assim.

A segunda possibilidade é que as coisas não dão certo porque mesmo estando certo, você faz da forma errada. Acho que isso engloba quase toda a população planetária. Você observa um fato. O vizinho fez a calçada e ficou totalmente torta. É o que você faz em seguida, como você lida com os erros dos outros que vai modificar sua vida e seu destino.

Se você, numa conversa honesta com o vizinho, disser para ele que você viu o esforço dele em arrumar a calçada, mas que você acha que não ficou muito boa e você empatiza com o problema e se dispõe a ajudá-lo, seja recomendando um bom pedreiro, botando a mão na massa e na pá pra refazê-la ou simplesmente dando apoio emocional pra ele, você está fazendo um bem. Você está realmente ajudando. Se você, ao contrário, apenas aponta o dedo pra ele e o incrimina, dizendo, por exemplo:

– Nossa, como ficou torta a calçada! Que horror!,

você não apenas não ajuda como ainda piora, porque vai fazer ele se sentir mal com a calçada, com ele mesmo, com você, com o mundo.

E, como tudo pode sempre piorar podemos em vez de dizer isso pro VIZINHO que fez a calçada diretamente podemos dizer pra outra vizinha, em estilo fofoca. Ou podemos publicar numa página no Facebook apontando dedos para o vizinho e expondo-o ao julgamento moral geral e humilhação pública. Veja, a calçada está torta, você está certo, foi mesmo mal feita e, sim pode até atrapalhar quem passa. Mas será que humilhar a pessoa que ERROU SEM intenção de errar e que está disposta a consertar é o melhor caminho?

Fácil falar, difícil fazer.

Estamos todos cheios de ódio no coração. Um ódio que é gerado pela revolta, pela indignação e que acaba nos escapando como vapor da panela e sai apitando pra todo lado, queimando inocentes.

A mais simples observação (e aqui um exemplo meu) de um querido leitor que sente falta de textos e crônicas (tenho publicado no medium.com/@rosana/ também), e que poderia ser um afago (ei, que bom! Alguém sente saudade do meu texto), vira uma ironia cortante, agressiva.

Que alquimia é essa, gente, que transforma AFETO em AGRESSÃO?

Faz sentido pra você? Ofendo porque gosto, xingo porque quero bem? Isso é tão absurdo e sem sentido como ‘bater porque ama’. Quem ama não magoa intencionalmente, não agride, não inflige dor, culpa, humilhação.

Eu também estou como você, brigo, xingo, faço muita coisa errada.
E, como você, também estou percebendo que estamos numa trilha ruim.
E que não adianta correr ou seguir adiante no caminho errado.
Tem que voltar.
E pegar um caminho melhor.
Um caminho verdadeiro, norteado pela coragem de errar e assumir. Um caminho pavimentado pelas boas intenções, mesmo que ele leve ao inferno.
Até porque o inferno tem delivery.
Todo dia chega um pacote. Você abre, tem ódio dentro.
E aí morremos todos. Mais um pouquinho.

Certamente errado – crônica no Medium

Publiquei uma crônica no Medium.
Espero que você goste.
E espalhe.
🙂
E comente aqui no blog o que achou.

Certamente errado — Prato cheio de vida  — Medium.

Um ovo com uma surpresa do lado de fora

Se eu fosse descrever as duas coisas que estão acontecendo comigo ultimamente seriam essas:

– tenho estudado mais

– tenho perdido mais a esperança no ser humano

Não que a segunda seja consequência da primeira, ao contrário. É por estar sentindo que a velocidade que a tecnologia trouxe para as relações interpessoais descambou pro julgamento apressado que voltei a estudar o básico, como filosofia. Estou fazendo vários cursos no coursera.org, que já recomendei muito aqui. Um deles é o Conhece-te a ti mesmo (Know Thyself) e o outro é o guia básico para o comportamento irracional, cujo professor é um fofo.

Acho que foi por causa desses cursos, da desesperança, da terapia toda 4a. feira, do gefilte fish que fiz ontem para a família, que acabei fazendo o que fiz hoje. Vou contar.

Eu estava vindo para o R7 para gravar o Rosana Indica, quadro diário com indicação de apps e sites para melhorar a vida da gente. Ninguém assiste, mas eu faço assim mesmo. Se uma pessoa for beneficiada com um bom aplicativo, já valeu a pena. Mesmo porque, só de fazer já me divirto pesquisando e aprendendo, mesmo que ninguém veja eu já estou na vantagem. A equipe é competente e gentil e eles também me dão dicas geniais, então. tá tudo bem.

A gravação era às 13:00 horas. Mas começou a chover. O produtor me ligou avisando que ia mudar o local da externa para outro lugar. Só que a chuva piorou o trânsito e eu comecei a achar que ía chegar atrasada. Eu não estava correndo, não corro com meu carro, muito menos em dia de chuva. Mas estava concentrada no horário.

Ao chegar na esquina da rua de mão única onde viro para entrar no estacionamento, eu já estava bem à direita, pronta para virar e entrar na garagem que fica a alguns metros. Vi que três pessoas estavam caminhando em diagonal, meio que cruzando duas esquinas numa só, as três bem à minha esquerda. Virei o carro para a direita devagar (tem uma valeta) e senti que um dos três bateu a mão em meu carro, fazendo aquele barulhão no capô. Eu me assustei e quase perdi a direção. Não entendi o motivo. Pra mim eu não tinha feito nada. Parei o carro no estacionamento, peguei meu papelzinho e fui até a porta.

E aí eu vi os três passando na minha frente. Perguntei pra um dos rapazes por que ele tinha batido no meu carro. Ele disse que eu tinha ‘jogado o carro em cima dos três para atropelá-los’. Respondi que eu não joguei o carro em cima deles, que jamais faria isso. E aí aconteceu aquilo. Começou um certo bate-boca desproporcional ao nada que tinha rolado. Porque briga nunca é pelo motivo aparente, é sempre uma válvula de escape pra todos os medos, dissabores, raivas, injustiças da vida de todos os envolvidos. A moça entrou na conversa e disse que eles estavam atravessando corretamente e que a errada era eu e etc. Eu disse que não tinha intenção de fazer nada de errado, que se fiz, não foi de propósito e meio que pedi desculpas de um jeito torto.

Eles seguiram pela calçada falando de mim. E eu fui caminhando atrás. E entramos todos no mesmo lugar. Ou seja, eles trabalham na mesma empresa que eu.

Caminhei atrás dos três comentando o caso, ironizando sobre minha pessoa, atitude e vi os três entrando num mesmo departamento.

Vim para minha mesa, peguei minhas coisas e fui gravar. Gravei, deu tudo certo, foi ótimo.

Assim que cheguei na minha mesa, lembrei da lição que estudei em casa, pouco antes de sair e fiz uma pergunta pra mim mesma:

– E se eu estiver errada? E se tudo o que eu pensei, achei, supus estivesse equivocado? E se tudo o que parece não for o que realmente é? Adianta ter razão se meu mundo ficou pior? Se o mundo a minha volta ficou pior? Se a alguns andares e metros de mim, três pessoas estão com raiva e me odiando? Qual a diferença entre estar certa e errada se a consequência disso é ruim do mesmo jeito?

Que mundo eu quero pra todos nós, afinal?

(repare que eu ando questionando muito)

Que pessoa sou eu?

Bom, pelo que aprendi no curso de filosofia, somos as nossas atitudes de sempre, somos o nosso comportamento repetido. Porque se você sempre agride e sempre briga é porque você É agressivo. Não adianta dizer que você não é agressivo se você SEMPRE briga.

E então eu resolvi ser quem eu sou e fazer o que eu sou, independente do resultado.

Peguei meu cartão de crédito e fui comprar três ovos de páscoa. Grandes. Lindos.

Paguei-os, peguei os três ovos numa sacola e fui até o departamento onde os três funcionários entraram.

Entrei e não vi os vi na imensa sala.

A recepcionista ofereceu ajuda. Eu não sabia como dizer. Não sabia como identificá-los, não sabia os nomes. Fiquei com vergonha de tentar descrevê-los, parecia tudo tão patético. O que dizer? ‘Oi, eu sou uma pessoa que bateu boca com três pessoas dessa sala?’. Pedi pra dar uma volta e olhar nas salas anexas.

E ai eu vi a moça.

Voltei pra recepção e perguntei se ela poderia avisá-la que eu queria falar um minuto com ela.

A gentil recepcionista entrou e chamou a moça, que saiu da sala.

Entreguei o ovo de páscoa, pedi desculpas, disse que eu estava errada e que desejava a ela uma boa páscoa. E entreguei o ovo. Pedi também que ela fizesse o favor de entregar os outros dois para seus colegas, com minhas desculpas também.

Ela me olhou nos olhos, sorriu e disse que não precisava. Quase não aceitou o presente. Insisti. Ela o pegou.

Pedi desculpas novamente e dei um abraço nela. Foi sincero, foi real, nós duas ficamos felizes, daquele jeito humano,  quando os olhos se alinham em paralelo e as almas se tocam sem falar.

E saí.

Senti vontade de chorar. Chorei um pouco e fui tomar um café. Encontrei a Lelê ainda sob efeito da emoção e contei o que tinha acontecido. Ela disse que eu deveria escrever contando o que aconteceu.

Esse post, portanto, é sobre isso. Não é um tribunal de julgamento para saber quem fez o que errado. Não é luta de classes, não é briga entre pedestres e motoristas, não é treta de twitter, desabafo de facebook. Tentar reduzir tudo é outro erro. Somos todos seres humanos tentando sobreviver, tentando manter o que de humano temos. E, confesso que tenho me perdido muito nesse quesito.

Sempre me perguntam se eu quero ser feliz ou ter razão, porque às vezes as coisas não incongruentes.
Pois apesar de ter um cérebro que gosta de ter razão eu quero mais do que as duas alternativas. Quero mais do que estar certo e ser feliz. Quero ter um ambiente bom a meu redor, pra mim e pra todos. Quero poder levar um ovo de chocolate e desejar boa páscoa pra uma pessoa, apenas porque somos humanas. Apenas porque acredito piamente que o fato de ter razão não dá a ninguém o direito de ser estúpida.

Feliz páscoa pra você também.
Sinta-se abraçado.

O mundo acabou. O mundo que eu conhecia, pelo menos, acabou. Posso usar o seu?

Olha, eu não preciso usar seu banheiro, muito obrigada, o meu está funcionando. Se eu precisar eu peço. Mas, se você não se incomodar, posso usar seu mundo um pouquinho?

Sabe o que é, eu acho que sou de outro mundo.

É, de um mundo que não existe mais.

Não era assim grande coisa, mas nesse mundo de onde eu vim a gente respeitava as pessoas mais velhas. Sabe, pai, mãe, avó, mesmo quando não é da gente? Era comum chamar de senhor, de senhora, era assim uma coisa normal mesmo. No ônibus, no ponto, na sala de espera, em qualquer lugar, quando uma pessoa mais jovem ou saudável via um idoso em pé, oferecíamos nosso lugar. Não era obrigatório, não tinha lei pra proteger o idoso, era uma coisa que pairava no ar da humanidade, chamava-se empatia. Também acabou, eu acho.

Mulheres grávidas, crianças, pessoas frágeis, gente carregando peso, todos os que sofriam mais eram atendidos por aqueles que estavam em estados melhores de menor sofrimento. Era natural naquele então.

Lembro que fazer fofoca não era sinal de grande sucesso e audiência, não rendia milhões pros fofoqueiros. Era uma coisa que acontecia, claro, mas não era tão frequente e, certamente não era uma atitude festejada como hoje. Hoje, fofoqueiro é respeitado, porque tem poder, o poder de destruir! É ruim, mas é um poder e vilão é tão querido quanto herói no mundo que está a minha volta, tão diferente daquele mundo de onde eu vim.

Sei que é chato falar de mundos extintos, também não gosto. Não sou muito saudosista. É só que, bem, eu estava um tanto quanto adaptada a uma porção de regras que acabaram assim, subitamente.

Cuidar da própria vida, por exemplo, era corriqueiro. Ter privacidade, não compartilhar intimidades com qualquer um. Ah, e a gente também comia melhor, menos, mais devagar, coisas sempre naturais e, por incrível que pareça, obesidade não era assunto do dia a dia. Não existiam academias, mas também não tinha tanto automóvel. Todos andavam bastante e se exercitavam nas tarefas do cotidiano.

A tecnologia é muito boa, o mundo ficou mais veloz, mais eficiente, mais competente em muitas coisas. Mas aquele mundo feito por pessoas basicamente gentis, morreu.

Claro, o mundo sempre teve coisas horríveis. Crimes, pedofilia, preconceito. Guerras. Quanto horror na história do mundo. Mas as pessoas, a massa, o povo, ainda oferecia alguma esperança.  Ou, estava tão ocupado sobrevivendo, que cuidava mais da própria vida do que a vida alheia.

O que vejo agora, nessa bolha conectada de 2 bilhões de pessoas é muita maldade. Muita gente cruel, agressiva, precisando urgente de um curso de ~anger management~. Gente que se mete na vida de todo mundo o dia todo, que julga a vida sexual de qualquer artista, modelo, blogueira, puta, vizinha. Gente que grita, ofende, profere todo tipo de maledicência sem parar. Que acusa sem provas, que primeiro atira e depois pergunta. Que acredita piamente que pedir desculpas por algo que fez de errado é humilhação. Como assim, humilhação? Você causa um mal pro outro ser humano, ainda que sem intenção, percebe que se enganou, que está errado e deixa como está porque seu ‘ego’ vai sentir-se ‘humilhadinho’? Não entendo. Não era assim lá no meu mundo.

Hoje, por exemplo, nem consegui acompanhar. Mas era só gente falando da modelo que teve uma filha com alguém que ela não revelou e que suspeitaram ser o marido ator de uma atriz e que por isso o casamento de ambos teria sido abalado, mas que, no final das contas, o colunista afirma que o exame de DNA revela que o bebê era, enfim, de um empresário que seria casado com a blogueira de moda, que nega tudo e vai processar o site e…ah, desculpa, não vou acompanhar.

Tem também um outro povo no facebook que está rindo muito da garota pobre que fala de um jeito vulgar sobre pessoas vulgares segundo ela.

Me perdi nos assuntos, mas li alguém falando que alguém registrou em vídeo (foi vídeo?) uma moça que fez alguma coisa muito nojenta numa balada em BH e o vídeo…

Ah, não sei. Não sei querido leitor. Eu não sei quem são essas pessoas, não sei que importância tem tudo isso, não sei se isso faz parte de um projeto para melhorar a humanidade ou é apenas uma tentativa coletiva de fingir que tudo é tão importante a ponto de fazer com que a gente esqueça que vamos todos morrer.

Porque vamos mesmo.

No meu mundo, pelo menos, éramos mortais.

E era justamente essa consciência, querido leitor, da nossa FINITUDE que fazia com que valorizássemos tanto o nosso tempo útil. Tempo de vida na Terra. Tempo usado pra fazer coisas que melhorem o projeto humano.

Mas parece que não deu certo mesmo. Aquele mundo de onde eu vim, acabou. Olho em volta e tem outro mundo  em torno de mim. Não o reconheço. Todos gritam. Todos fofocam. Todos escarnecem de todos. Todos odeiam tudo. Todos apontam dedos. Todos julgam. Todos ridicularizam os pobres e torcem pra que os ricos se dêem mal. Todos ficam felizes quando um milionário perde tudo. Ficam mais felizes quando vêem que alguém que tinha deixou de ter do que quando eles próprios conquistam algo para si.

Não conheço seu mundo, querido leitor, mas se você puder, posso usá-lo um pouquinho?

Aquele mundo de onde eu vim onde as pessoas tratavam os outros da forma como queriam ser tratados, onde o respeito pelo próximo era condição inerente à existência, onde a liberdade da gente terminava onde começa a do outro, acabou.

Posso entrar no seu mundo?
Não vou demorar.
Eu vou só trancar a porta e chorar até passar essa desesperança típica dos desterrados, dos imigrantes que perdem sua terra natal.

Perdi minha identidade humana.
Agora, somos só zumbis conectados em rede.

Não se engane

Quando alguém diz que você está misturando alhos com bugalhos é hora de parar e ver o que está acontecendo. Primeiro que ninguém sabe direito o que é um bugalho, a menos que você resolve entrar no google dar uma busca. Pois bem, o bugalho é uma bolota que as árvores produzem nos galhos. Tem uma explicação que liga os bugalhos a insetos aqui e outra que relaciona o termo bugalho com olhos esbugalhados (redondos como os bugalhos, saltados) aqui. 

Acontece que pra você confundir alhos com bugalhos você precisa estar com eles misturados, ou seja, você não foi até a ‘fonte’. Porque o alho nasce embaixo da terra e o bugalho no galho da árvore, ou seja, não tem chance de você misturar os dois se você mesmo for procurar por eles. A menos que você seja uma pessoa iludida que acha que pode encontrar uma cabeça de alho num galho de carvalho. Nesse caso, bem, a cabeça do alho está pensando melhor que a sua.

Portanto, alhos e bugalhos só são confundidos quando você está procurando no lugar errado ou quando você está confiando nas misturebas e informações dos outors.

Fim da dualidade alho-bugalho.

Vamos para a outra, a joio-trigo.

Já escrevi sobre isso aqui no blog. Joio e trigo além de parecidos, nascem no mesmo lugar. O joio é a erva daninha que nasce junto com o tribo e que se parece MUITO com a planta. Aí fica difícil, dirá você. Sim, mas só no começo. Porque, passado o tempo, o trigo cresce e vira trigo, tem cara de trigo e o joio continua joio. Ou seja, a confusão entre joio e trigo fala de precipitação, de ansiedade. De gente que confunde na pressa, porque não quer ou não consegue esperar. Se você esperar, mesmo que o joio e o trigo confundam você no mesmo lugar, ao longo do tempo você saberá distinguir um do outro.

E o gato por lebre? Aqui é diferente. Você não é sujeito da ação. Não é que você foi ao lugar errado ou confundiu alhos e bugalhos visualmente. Nem porque você não teve paciência de esperar o tempo mostrar a diferença entre joio e trigo. Aqui você é que foi enganado por alguém que vendeu carne de coelho pra você, mas entregou carne de gato, ou seja, alguém que ludibriou você oferecendo pelo preço de algo mais caro, algo de qualidade inferior. Aqui, o ditado não compre gato por lebre harmoniza com quando a esmola é demais o santo desconfia.

E assim termina este pequeno post sobre enganos.

Espero não ter me enganado nas coisas que escrevi.

 

Essa mania de voltar para o passado

Como muitas pessoas, também acho divertido olhar para fotos do passado, lembrar de coisas da infância. Mas faço isso muito esporadicamente. Não sei se é porque é minha natureza ou se porque minha infância já ficou tão longe que não é mais referência pra nada. Mas voto na primeira opção. É o meu jeito de ser. Olho pra minha volta, olho pra frente. Não esqueço meu passado, minha origem, não é isso. Eu apenas não volto pra lá. Porque esse tempo não existe mais. O que existiu está incorporado em mim e em tudo o que sou e faço. Por isso não sinto necessidade de ficar me referenciando nas décadas que já foram.

Exatamente por isso não gosto do Facebook. Eu sei que o site é um sucesso, que ele também tem uma função importante de disseminação de notícias, novidades, de reencontro com familiares e amigos. Por isso eu ainda uso o Facebook. Veja, não disse que ‘não uso, não usarei nunca, odeio quem usa’. Eu disse que não gosto. E não gosto exatamente porque o Facebook é de hoje para trás. Ele é um obituário em vida, uma coleção de coisas e pessoas do passado. Para os saudosistas, um paraíso. Para os apaixonados pelo presente e ligados no futuro, apenas chato. Cada um, cada um. Não estou julgando ninguém, apenas falando sobre meus gostos.

Voltar para o passado, como qualquer coisa, pode virar uma mania. Um vício.  E aí, quando qualquer coisa não vai bem no presente a pessoa corre pra lá. Sempre tive isso em comum com o Emilio Surita nos anos que trabalhei com ele na Pan e no Pânico. Ele, como eu, detesta recuperar coisas velhas, repetir sucesso antigos, copiar receitas do que já deu certo um dia. Mas somos votos vencidíssimos numa massa de seres humanos inseguros que têm no passado a única CERTEZA!

Essa é a chave que abre aquela portinhola trancada que tantas vezes tentamos esquecer.

Queremos ter CERTEZA, garantias das coisas. Não rola. Vida não dá certeza. Então o ser humano vai lá para o Planeta Ilusão, que começa hoje e termina no dia em que você nasceu, onde tudo é IMUTÁVEL, porque o passado é aquilo que você não pode mais mudar! E, se é imutável, é cheio de ‘certezas’?

Olha a ilusão.

Porque as certezas do passado já foram. Não estão mais em lugar nenhum a não ser nas impressões guardadas nas memórias das pessoas. E, note, não são os FATOS, mas as impressões que tivemos dos fatos, na época em que eles aconteceram, o que é totalmente diferente de agora! E é por isso que quando a gente revê aquele filme, aquele brinquedo, aquela foto antiga, a gente tem um choque. Porque nossos olhos já são outros. A série Perdidos no espaço, que eu adorava quando era adolescente virou uma trasheira cômica e pitoresca quando revi num box da série comprada há alguns anos. Foi divertido fazer um update nas impressões e lembrar, por breves momentos, da adolescente que fui. Mas passou. E, até que alguém invente um jeito de baixar os arquivos de toda a memória de cada pessoa ele irá perecer junto com a gente.

E, como qualquer pessoa com cérebro consegue concluir, o passado já foi e o futuro ainda não veio. Portanto tudo o que temos agora é o agora. Esse agora fugaz, franguinho esperto que foge quando tentamos pegá-lo, areia que escapa entre os dedos, água que evapora.

Assim, nesse domingo de chuva, nesse post simplório, olho a minha volta e vejo um escritório zoneado, cheio de coisas entulhadas, papéis empilhados e uma montanha de coisas para fazer. Tudo isso é confuso, mas é real. É presente. E por tudo o que tenho agradeço. E por tudo o que sou, agradeço. E por tudo o que posso vir a fazer pelos outros, pelo mundo, peço coragem. E para que possa continuar a produzir e aprender e compartilhas e a amar, peço saúde. E para você que lê agora, querido leitor, desejo o mesmo que desejo para mim e para qualquer ser humano. Lucidez, serenidade, generosidade, sabedoria, alegria, leveza, compreensão.

Bom domingo.
O presente é uma dádiva.

Ah, ter razão! Grande coisa.

Todo mundo diz que quer ser feliz. É um desejo lícito. E teórico. Porque na prática a gente quer ter razão.
Mais. Quer ter razão sempre, quer saber tudo, quer ter certeza e quer prever o que vai acontecer.
Sei que estou sendo repetitiva, mas sempre acreditei que o cérebro tem duas metades pra bater palminhas pra si mesmo. ‘mpressionante como a mente humana gosta de acertar.

Criança, por exemplo, adora ver filme repetido.
De preferência junto com outra criança que ainda não viu.
Ai, sim. Ela pode ficar ‘antecipando’ tudo o que vai acontecer na história. Porque ela já viu, ela tem CERTEZA do que vai acontecer. Não precisa ter medo, nada é desconhecido ou fora do controle. O príncipe VAI beijar a princesa. Ela VAI acordar. Não tem erro. É certeza. E 100% de garantia.
E aí, ela vê o filme junto com a outra que não viu ainda e fica ‘olha, agora vai acontecer isso…’ ‘não falei? olha lá!”

E aí a gente cresce. E continua fazendo a mesma coisa.
Nas redes sociais o que a gente mais vê são os profetas do óbvio.
O conclave, por exemplo. A pessoa diz ‘garanto que a fumaça branca vai sair hoje’. Ela não garante nada, porque se não sair não tem punição. Mas aí a fumaça branca sai. Ela imediatamente esquece a importância de um novo papa e começa a tweetar ‘eu não disse? eu disse! eu falei! eu falei antes!’

Eu tenho esse horrívvveeeeeelllll defeito mental, o do ‘eu disse eu disse eu disse antes’. É um horror. Um horror. Mesmo sabendo pouco consigo controlar esse impulso do meu cérebro que QUER antecipar tudo só pra dizer que tinha razão e já sabia!

Acontece que ter razão nem sempre é a melhor coisa pra você, pra sua vida, pra sua saúde. Às vezes a melhor coisa é ficar distante, de fora, especialmente quando alguém provoca você intencionalmente.

Sim, porque, tem muita gente que provoca, xinga, ofende, testa, na esperança de você reagir. Porque assim que a gente reage, já está no controle do outro. Cai no jogo do ‘relacionamento’. Se você não reage, não tem interação. Não há nada. Nada. Mas quem diz é fácil resistir à tentação de PROVAR pro outro que ele está errado e VOCÊ tem razão, quando você é desafiado?

Hoje eu perguntei pra minha terapeuta, ‘onde a gente se colocava’ quando criticava o outro, quando se sentia certo diante do erro do outro. Ela me disse que a gente se coloca nesse lugar, o lugar onde as pessoas ~estão certas~ e não são felizes. Apenas têm razão. Tem gente que morre tendo razão. Mas e daí? Se você morreu, acabou o jogo, acabou tudo.

Conclusão, ter razão pode ser exatamente….perder a razão, a racionalidade, o senso.
Ter razão pode ser só o orgulho de se reafirmar.
Sim, sim, CLARO, temos que lugar pelo que acreditamos, há muitas exceções em que é importante estar certo, agir certo.
Mas no dia a dia? Pra que insistir? Pra que se provar tanto?
Melhor abrir mão do que não importa e economizar a energia que se gasta.

Deixar pra lá.
Esquecer.
Relevar.
Desencanar.
Seguir.
Rir.
Rir de si.
Rir do seu erro.

Ah, você já sabia que o papa seria argentino? Não, não sabia. Você pode ter chutado e acertado. Acertou, mas mesmo assim não sabia. Ninguém sabia.

A gente não sabe de nada.
A gente nem sabe que nada sabe.

via @socrates

O valor da delicadeza

Nos anos 80 eu tinha uma casinha em Campos do Jordão. Era um lote no meio do mato que comprei com o dinheiro que ganhei como colaboradora de uma novela do Cassiano Gagus Mendes, da Rede Globo, Champagne. Meu nome nem aparecia nos créditos, porque eu tinha uma empresa de textos chamada Verso e Prosa e a emissora só publicou o nome do outro sócio. Valeu pela experiência anyway.

Meus vizinhos eram muito legais e costumávamos trocar pequenos presentes em visitas de cortesia. Lembro que uma vez tive a ideia de levar uma caixinha de biscoitinhos para uma vizinha. Fiz a massa, assei os biscoitinhos. Ficaram lindos. Depois comprei material e fiz a caixinha. Para não colocar os biscoitos direto no papelão, fiz uma toalhinha de papel bem fino para acondicioná-los. Coloquei os biscoitos sobre o papel, dentro da caixinha que montei. Embrulhei com um laço de fios de lã que eu mesma fiz. Na saída de casa, peguei uma florzinha da minha floreira na porta, coloquei no laço e levei o presente. A pessoa que o recebeu segurou a caixa, abriu-a, ofereceu os biscoitos e enxergou cada detalhe do meu afeto e da minha dedicação para com o presente. No final, fui eu a presenteada com a delicadeza de quem enxergou ali o trabalho de minhas mãos.

Sempre tive olhos para o delicado e para o invisível, aquilo que está contido no objeto e nos gestos que o trouxeram até ali. Adoro pessoas que são assim. No ano passado, a Lelê me deu uma festa de aniversário de presente, entregue em Santorini, na Grécia. Acordei e encontrei bolo, prosecco, flores, um cartão inesquecível, tudo produzido por ela daqui do Brasil. Vou lembrar pra sempre. Trouxe pra ela da Grécia uma garrafa de Vin Santo. Quando entreguei a garrafa pra ela no R7, a primeira coisa que ela comentou foi sobre o trabalho e o cuidado que eu tive pra levar a garrafa de Santorini até lá. De fato, viajei com a garrafa no colo, morrendo de medo de quebrá-la, de alguém mexer no compartimento das bolsas de mão e acontecer alguma coisa. Ela não viu só o presente, a foto, ele entendeu o filme.

Nunca tive uma vida de refinamento. Meus avós eram imigrantes e bastante rústicos. Mas cada um tinha sua delicadeza. Minha avó materna, por exemplo, fazia toalhinhas de crochê com fio de linha de costura. Era um trabalho louco que pouca gente reconhecia, muito delicado. Minha mãe fazia casaquinhos mimosos de tricô, minha tia bordava tecidos finíssimos. Meu avó paterno, além de coisas pesadas de madeira, fazia delicados colares de metal e vidro.

A delicadeza não é sinônimo de coisa cara, de cristal lapidado, mas da sutileza humana. Produzir e reconhecer sutilezas é uma arte que está morrendo. Pelo menos é o que tenho sentido. Porque a percepção e produção da delicadeza requer coisas que a sociedade moderna não tem mais, como foco, tempo, concentração, amor, dedicação.

Sinto falta disso. Sinto falta em mim mesma. Sinto falta da minha própria delicadeza quando faço comida com pressa, quanto publico um post sem revisá-lo com cuidado, quando faço de qualquer jeito para cumprir a tarefa e passar para o próximo compromisso.  Sinto falta do quanto isso era importante e deixou de ser, de como essa vida industrializada, do alimento ao sentimento, transformou as pessoas em robôs imprimindo seus egos em linha de série, sem reparar em mais nada nem ninguém.

A mídia, em busca de atenção, opta pelo caminho da brutalidade, tentando chocar cada vez mais a audiência para que os sentimentos fortes gerados resultem em muita indignação, muita revolta, muito qualquer coisa para mobilizar a pessoa a passar o clique adiante.

Hoje, no meio do meu jeito rústico e desse mundo bruto, acordei delicada.
E fiquei feliz porque um amigo notou uma pequena brincadeira que postei.
Me deu uma delicada esperança de continuar acreditando que a delicadeza ainda é visível, pelo menos aos olhos daquele que ainda ouvem o bater do próprio coração.

 

 

 

Falta de serviço! Em outro sentido.

O brasileiro tem ódio do ócio. A crença judaico-cristã de que o trabalho duro, suado, é o único pacote turístico para a vida eterna no céu criou uma mentalidade de desprezo por qualquer tipo de tempo livre. A gente vê isso muito arraigado no vocabulário e nas expressões das pessoas nas redes sociais. Basta qualquer pessoa mostrar uma criação sua e os clichês pululam:

– Não tem louça pra lavar?

– Vai pegar um tanque cheio de roupa!

– Tá com tempo sobrando, hein?

Sei que já falei disso no blog, mas aqui é só uma introdução. Não vou falar da ‘falta de serviço’ que é mencionada sempre que alguém usa seu tempo com algo que o OUTRO julga inútil. Falo de ‘serviço’ no sentido que empregamos no jornalismo, a prestação de serviço.

Informar sobre o trânsito, o tempo, dizer o que abre e o que fecha nos feriados, prazos de entrega de imposto de renda, datas de pagamento de IPVA, etc. Prestar serviço, nesse sentido, é dar informação útil para a vida a cidadão. Numa sexta-feira que antecede um final de semana de sol é sempre bom falar sobre as condições das estradas que levam ao litoral e ao interior do estado, ainda que o interesse primordial do público seja a magreza excessiva da atriz Déborah Secco.

Pois bem, agora que todo mundo tem mídia e pode publicar textos, fotos, vídeos e combinações todas as coisas, imagina-se que o próprio público possa prestar serviço. E presta. Há uma pequena parcela que reporta acidentes, buracos nas ruas, que avisa sobre interdições, que filma avalanches, que compartilha descobertas, indica restaurantes, aplicativos e tudo mais.

Essa, aliás, é uma linha que me agrada muito. O próprio quadro Rosana Indica é uma prestação de serviço de indicações de sites, apps que podem ser úteis ou divertidos para as pessoas.

Mas, você sabe, existe aquele outro conceito clichê, de que de amarga já basta a vida, então vamos todos rosetar. E, para milhões, para quase todos, a Internet é quase exclusivamente para isso, ~zuêra~. Não sei dizer qual a proporção, mas imagino que para cada MIL vídeos de bobagem assiste-se um tutorial para aprender alguma coisa. Veja, não estou dizendo que isso ou aquilo é ruim, apenas a proporção do interesse é díspar demais. Vejo aqui no portal.  Um canal, blog ou página sobre fofocas de celebridades chega a 5 milhões de views por mês, enquanto um canal de prestação de serviço num blog pode chegar a 5o mil.

Pois o povo que agora publica faz a mesma coisa. Não posta nada de útil pra ninguém. E, olha, o grau de inutilidade chega a níveis estratosféricos! Vou explicar o que eu quero dizer.

  • Se alguém posta que está comendo uma banana, parece inútil. Mas, para um nutricionista pode ser um dado interessante dentro de um contexto maior. É um comportamento de consumo alimentar, serve pra alguma coisa. 
  • Se alguém reclama que não está dormindo bem à noite e outras pessoas também falam que dormem pouco, também pode ser interessante para quem pesquisa o sono do brasileiro. Não é uma prestação de serviço imediata como quando alguém posta um link de um site que envia SMS gratuito, por exemplo, mas já é alguma coisa.
  • Se alguém posta o que SONHOU, a coisa já começa a ficar besta. Porque o que você sonhou só interessa pra você e pro seu analista (já falei disso aqui) e pra mais ninguém. Porque o que você sonhou NEM AO MENOS ACONTECEU, NEM AO MENOS EXISTE.
  • Mas tem gente que posta coisas ainda mais INÚTEIS que sonho. Tem gente que fica postando que ela PENSAVA quando era criança, o que ela IMAGINA quando era adolescente.
  • PQP, gente, o que pode interessar, pra que pode servir, um PENSAMENTO que alguém teve há vinte anos? WHO FUCKING CARES?!?!?!?

Mas no reality show das redes sociais, é isso. As pessoas querem atenção. Querem ser vistas. Querem ser reconhecidas. Querem ser notadas. Querem ter amigos. Querem que os outros falem com ela. E ela não tem assunto. Ela não tem repertório. Nâo tem mais do que falar, mas quer continuar falando. E aí acontece a mesma coisa que acontece em qualquer reality show de qualquer emissora. Do mundo: a pessoa começa a falar de si sem parar. Fala de coisas fisiológicas, de seu xixi, do seu cocô. Teve uma edição do BBB (1) que aquela namorada de um DJ, a Estela, ficou descrevendo em detalhes sobre uma pessoa que tinha _____ (não tenho nem coragem de postar porque é MUITO nojento, se quiser saber por curiosidade, clique aqui). Outros falam sobre prisão de ventre.

Ninguém faz brincadeiras sobre filmes, nem comenta sobre livros, nem discutem ideologias. Nem mesmo música. As pessoas não têm repertório suficiente pra conversas, então falam de si e dos outros. Só falam de pessoas. Delas e das pessoas a sua volta.

E quando acabam as HISTÓRIAS elas começam a falar sobre seus sonhos, seus pensamentos e sobre qualquer coisa que tenha passado pela sua cabeça, seja um ideia ou uma lêndea.

Eu acho isso muito triste. Não acho errado, não acho inferior, acho triste.

Porque todo mundo, repito, todo mundo tem algo legal pra ensinar. Um serviço pra prestar. Todo mundo deve saber uma receita de sanduíche, um suco que já fez, já deve ter descoberto um jeito legal de prender a blusa na calcinha pra não sair pra fora da calça, uma forma de não borrar as unhas depois da manicure. QUALQUER técnica. Como ver se o óleo já está quente para fritar batata usando um palito de fósforo. Como tingir o cabelo com água de casca de cebola. ANYTHING que possa servir pra alguém

Mas, não. Porque o grosso da população online não está lá para aprender porra nenhuma e muito menos ensinar. Está lá para ser notado. Para fazer sucesso. Para achar que é invejável. Para xingar os outros de recalcado. Para polemizar e virar hype. Para alimentar o ego. Não é TAMBÉM Para alimentar o ego, mas SÓ para isso.

Essas mesmas pessoas que acusam o outro de ‘não ter uma pia de louça pra lavar’, que acham que qualquer experiência criativa é ‘falta de serviço’ não oferece nada, NADA para a humanidade. Nem um… FUNK que seja. É zero em cima de zero. Ou zero abaixo de zero. It’s zero all the way down!

Por isso, quando entram no blog para reclamar de algo que estou fazendo, ignoro. Porque estar fazendo alguma coisa, ainda que seja entretenimento fútil, é melhor do que entrar na Internet só para destruir.

Eu queria muito saber se essas pessoas que não fazem nada por ninguém, que não produzem coisa nenhuma, que não têm uma INFORMAÇÃO RELEVANTE para oferecer pro universo, têm consciência de seu estado de nulidade. Acho que não. Não têm consciência de nada. Ainda estão na fila de espera para pegar a senha que eventualmente as levará para a pré-consulta que averiguará se eles podem se tornar seres humanos. Estão só fazendo volume, matando tempo, policiando para que ninguém seja feliz sem pagar um pedágio.

Adoro este blog, porque aqui encontro pessoas que, basicamente, compartilham coisas importantes. Como palavras de amor, correções de texto, links maravilhosos, sugestões e ideias, endereços e livros. Pessoas que complementam informações, que levantam outras, que trocam afetos, arquivos, imagens e coisas que fazem bem aos outros. Aqui ainda é um lugar que me dá prazer de estar, mesmo que de vez em quando entre um hater vociferando seu ódio ao universo.

Aqui ainda é um lugar onde se presta serviço.
Nem que seja só pra avisar que tem uma lua linda lá fora.

 

 

 

A tragédia de Santa Maria e a pergunta que fica: de que lado você está?

Domingo de manhã, na hora do café, quando soube do incêndio na boate Kiss em Santa Maria, comecei a chorar e a pensar e a sentir e a lamentar e a refletir e não consigo parar desde então. Como tanta gente no Brasil e no mundo, meus olhos se voltam para os jovens que morreram, meu coração se despedaça com os depoimentos dos pais e parentes que ficaram, meu espírito se agita com o medo de que coisas assim possam voltar a acontecer. É uma carga intensa demais de dor para a gente administrar, um sofrimento que não cabe. A gente tem que falar, compartilhar, lamentar e vivenciar esse rito doloroso, para que ele se incorpore. Por fim, para que a gente se conforme e aceite tamanha tragédia, é preciso tirar alguma coisa, uma lição, um aprendizado, que fique ao menos como uma homenagem a tantas vidas perdidas.

E é aí que começa a reflexão sobre você, eu, todos nós, especialmente nessa era de redes onde nosso pensamento coletivo e o comportamento social delata o estado de alma em que estamos.

Estamos confusos, isso é certo.

Se um dia tivemos valores dados pelo senso comum, pelos avós e antepassados, todos nascidos num mundo mais pacato que o atual, perdemos boa parte deles. O respeito pelos mais velhos, dar lugar para mulheres grávidas no transporte público, não roubar, não falar mal dos vizinhos, não jogar lixo na rua, são apenas os exemplos mais corriqueiros de ensinamentos que se perderam nas confusas estruturas sociais e, pior, tornaram-se’ coisa de babaca’.

A Lei de Gérson não apenas nos definiu, como ‘pegou’ e não há meio de revogá-la.  Sobre nossa natureza do jeitinho nacional, somou-se a Gersonificação da vantagem individual, potencializada pela opinião coletiva de que ser certinho é ser idiota e uncool.

A situação de momento no Brasil (e não falo do mundo porque não tenho autoridade ou vivência pra falar de outros paises) é assim:

 

1. Todo mundo que faz tudo certinho, que obedece à lei, que não transgride e não se corrompe  é xingado e apontado como babaca, caga-regras,  pela maioria conivente e tolerante com tudo o que é  errado e corrupto

2. Na hora que dá alguma merda, a mesma  maioria conivente e tolerante com o errado e corrupto  posa de certinha e aponta dedos para todos os que erraram, com ou sem dolo, em busca de crucificação e linchamento público dos envolvidos para expiar a própria culpa da conivência e tolerância com o errado durante uma vida.

Vamos olhar a tragédia insuportável que estamos vivendo.

Os especialistas em acidentes de avião dizem sempre que toda tragédia é uma sucessão de erros, não é uma coisa isolada. Sim, tem algo que começa, um gatilho que dispara, mas a reação em cadeia que leva a perdas de vidas só acontece porque tem uma ~massa crítica~ de erros no caminho. E, muitas vezes, nossa leitura dos fatos também é imprecisa. Exemplo? Todo mundo acha que muitos carros batem nos postes. E aí começam a elaborar teorias sobre ‘a atração entre postes e carros’, como se um poste inanimado tivesse um magnetismo que leva os carros a baterem nele. Não, né. A gente vê muitos carros batidos em árvores, postes e muros, porque dentro TODOS os carros que se acidentem, ou quase se acidentam, todos os que não deram PT ou não chegaram a bater, foram embora. Os que ficam são aqueles que encontraram um anteparo, bateram e, por isso ficaram parados lá. Aí a gente vê os que ficaram parados e tira conclusão do todo pelas ocorrências em particular.

Pois bem. O bom senso nos diz que acender fogos de artifício em lugares fechados não faz sentido. Fogos de artifício já não fazem muito sentido nem do lado de fora, embora sejam lindos. Mas indoor realmente não parece ser sensato. Só que MUITA gente faz. E MUITA gente aceita. E acha normal. E acha OK. E acha bonito. E só quando acontece uma tragédia é que vai apontar dedos para quem o fez.

As mesmas pessoas que querem crucificar o garoto da banda que acendeu o sinalizador, muito provavelmente até OUTRO DIA não se importavam com o fato e nem tomaram nenhuma atitude para impedir que isso acontecesse.

O material da boate era todo inflamável, ao que parece. Assim como são feitas tantas casas noturnas, fantasias de carnaval, barracões de escolas de samba e tudo mais. Se está tudo errado e é perigoso, temos que fiscalizar e multar e obrigar todo mundo a fazer certo. Mas, você percebe que nós, como sociedade, somos os mesmos que culpamos todo mundo depois e não cobramos nada antes?

E os seguranças da boate? Bom, eu não sei o que aconteceu de fato. Mas, o que é que faz um segurança da boate? Ele cuida da segurança do usuário ou da boate? Bom, em tese, ele cuida da boate primeiro, impedindo que pessoas saiam sem pagar, que não tumultuem ou criem problemas. E cuidam para que o usuário se comporte dentro do esperado. Eu nem sei se teve algum segurança morto no incêndio, mas pelo que entendi, foi tudo tão rápido e o lugar era tão labiríntico,  que levou um tempo até que os seguranças entendessem o que estava acontecendo.

As portas de emergência fechadas, isso realmente não tem explicação. Se a porta é de e para emergências, o que adianta tê-las se na hora da emergências elas estão trancadas?

E tem o alvará vencido, os extintores que supostamente não funcionaram. Tanta coisa irregular. Errada, criminosa. Mas a gente só vai enxergar isso lá e agora? Por que você não vai olhar o extintor de incêndio do seu carro, do seu prédio, do seu trabalho pra ver se ele tem espuma dentro, se funciona, se serve pra alguma coisa?

É, querido leitor, é tudo muito chocante e doloroso. Desabei em vários momentos, como as ligações perdidas dos pais e mães nos celulares dos jovens mortos, o pai que perdeu duas filhas no mesmo incêndio, os caminhões frigoríficos usados para empilhar e transportar corpos que horas antes eram jovens cheios de futuro e de vida. Mas até essa dor não impede que eu enxergue a hipocrisia na qual estamos todos mergulhados como sociedade.

Claro que existem responsáveis, claro que é preciso apurar tudo, que não podemos apenas dizer ‘ah, aconteceu’. Mas até nessa hora é preciso ter bom senso para esperar resultados, compreender, sem sair crucificando tudo e todos. Tem gente que culpa até as vítimas, até os que correram pra se salvar.

Porque, repito, neste texto longo, catártico, que tenta dar conta do silêncio de dias no blog com essa verborragia   interminável, as pessoas que apontam culpados a torto e a direita agora, cobrando perfeição e lisura de tudo e de todos são as MESMAS que transgridem, que corrompem, que toleram o erro, que são coniventes com a corrupção pequena que os beneficia. Essas pessoas somos nós, os brasileiros.

E mais, os brasileiros, quando se deparam com alguém que faz tudo certo, OFENDEM essa pessoa. A pessoa que faz tudo pela lei é maltratada e temida, porque ela esfrega a corrupção alheia na cara da sociedade. E, nossa sociedade endemicamente corrompida, que expulsar todo elemento perigoso a essa rede implantada de pequenas contravenções, porque ele nos expõe.

É hora de parar e pensar com nossa consciência o que realmente somos. Se pagamos o guarda para liberar a multa, se pagamos o despachante pra comprar a carta, pra passar no exame, se pedimos ao contador para alterar o imposto de renda, se não declaramos os bens que temos, se compramos drogas do traficante, se baixamos torrentz sem pagar, se também fazemos incontáveis irregularidades (muitas vezes porque a lei é mesmo burra e o mercado injusto) sem LUTARMOS para que as coisas sejam certas, temos que ter a decência de, PELO MENOS não apontar culpados que não são melhores nem piores do que nós.

Diante do que é certo, você tem que escolher o lado em que vai ficar.
Mesmo que você ao longo da vida mude lado.
Mesmo que você tenha que pedir ajuda para decidir o seu lado.

Só não dá é pra ficar do lado onde tantos tentam ficar, do lado de fora.
Assistindo tudo de camarote, no conforto de sua cadeira diante das telas vivas das redes, apontando culpados sem conhecimento, condenando sem julgamento, criticando obras prontas, ofendendo os que têm boa intenção, difamando os que agem de forma correta. Pulhas que ficam sempre do lado de fora, apoiados em seus provérbios vencidos, em seus valores escusos, em seus dogmas mal interpretados, usando a razão como advogada de sua crueldade.

Você precisa escolher o lado que vai ficar.
E não ter medo de mudar de lado se o coração mandar.
Porque cobrar do outro uma perfeição que você não tem é estar do lado de fora da raça humana.

 

 

Como fazer com que o amor continue quando a pasta de dente acaba

 

Cada pessoa tem um jeito. Você tem o seu, eu tenho o meu, meu marido tem o dele. Às vezes a pessoa além de um jeito, tem um ~jeitinho~.

O jeito de ser de cada um tem muitos ingredientes. Alguns atávicos, outros genéticos, culturais, ambientais, adquiridos por contato e tudo mais. E, como em toda lista de ingredientes, tem coisas boas pra saúde e alguns aditivos que deixam a gente de cabelos em pé, tanto no caso de produtos quanto no caso de pessoas.

Meu marido, por exemplo, é muito controlador.

O lado bom é que ele provê tudo que é preciso em casa, cuida bem de todo mundo, é super correto em todos os seus compromissos e não perde um detalhe de nada.  Todo mundo tem defeitos, por isso, o mais sensato é ter uma atividade profissional que se adeque não só às suas virtudes, mas aos seus problemas também. Não é uma maravilha ter, por exemplo, uma dermatologista detalhista?

O lado ruim de ser controlador é que, bem, ele controla tudo. Todo e qualquer detalhe. E exige explicações. A mente dele precisa completar a história para poder funcionar com tranquilidade, como no caso de uma caixinha de fio dental, por exemplo.

Temos duas cubas na mesma pia do banheiro, lado a lado, uma pra cada um. O espaço da direita é das coisas dele, o da esquerda é das minhas e no meio temos as coisas em comum, como pasta de dente e fio dental.

Outro dia tinha 3 caixinhas de fio dental, de tipos diferentes. Escovei os dentes, passei o jato de água e peguei o fio dental antes do bochecho com meu amado Scope. Assim que peguei a caixinha do fio dental e puxei, senti que o fio tinha acabado. O pedaço que veio na mão era pequeno, quase insuficiente para a higiene. Usei aquela tática de enrolar bem e aproveitar ao máximo, mania que adquiri ao longo de mais de trinta anos de economia por força da dureza financeira. Fiz o bochecho e joguei a caixinha no lixo do banheiro. O lixinho do banheiro foi pro lixo master e, no final do dia, já estava no caminhão da prefeitura.

À noite meu marido chegou em casa do trabalho, foi para o banheiro lavar as mãos antes do jantar e sua linda mente controladora tocou o alarme. Duas caixinhas de fio dental?!?!?! WTF? Mas de manhã eram três!

No comando das pernas, a mente de Isaac levou-o até meu encontro na sala de almoço com aquele olhar indignado de quem tem um mistério escabroso para resolver. Ele entrou na sala e atacou:

– Cadê a caixinha de fio dental?

– Tá na pia do banheiro.

– Não, não está. Tem só duas. Hoje de manhã eram três. Tem uma faltando.

– Ah, acabou.

– Como assim ‘acabou’?

– Acabou, não tinha mais fio. Sabe, tipo, tudo acaba, o fio dental, as caixinhas, a vida? Acabou.

– Mas acabou mesmo? Tem certeza?

– Acabou, meu bem. Eu peguei o fim do fio, nem era suficiente pra limpar todos os dentes. Aí eu peguei a caixinha e joguei fora. Meu bem, por que você tá fazendo um big deal dessa história? Acabou, joguei fora, fim da história. Podemos comer?

Ele sentou pra comer, mas era visível sua indignação. Eu sei como funciona. Ele sai, tem 3 caixinhas. Volta e tem só duas. Se eu o conheço bem ele deve ter procurado a 3a. caixinha vazia olhando na lixeirinha do meu espelho. Sabe, não é maldade, é uma coisa da mente controladora da pessoa. Tem uma coisa faltando, ela não viu, ela não se conforma, não aceita.

Eu, por minha vez, sou muito implicante. E não gosto de ter que dar explicações de todos os detalhes da minha vida. E é aí que o amor entra. Porque não é uma questão de lógica, mas de afeto, tolerância e compreensão.

Já entendi como as coisas acontecem e sei que pra que ele seja feliz, ele precisa saber das coisas, precisa aplacar essa ansiedade. E é pra isso que estamos juntos, para sermos felizes.

E foi assim que aprendi como lidar com isso. Agora, quando vou usar o fio dental, verifico se está no final. Se estiver e for acabar na minha vez, eu uso outro. Ou pego só um pedaço, calculando para que termine sempre NA VEZ DELE.

Agora mesmo fui escovar os dentes para sair e vi que a pasta de dentes estava no talo, quase no final. Espremi tudo o que eu pude até pegar aquele restinho de gel azul que costuma cair em todas as minhas roupas. Caiu de novo. Fiquei sem pasta. Fui tentar de novo, não deu. Peguei uma outra pasta, mas não joguei a que estava usada no lixinho. Deixei lá. Sei que quando ele chegar ele vai tentar interrogá-la, torturá-la, até que ela entregue mais um pouquinho de pasta. Não é mesquinharia, é hábito. E, quando ele notar que não tem mais jeito mesmo, ele vai jogá-la no lixo. Assim ele vai saber o final da história e vai arquivar o caso. Porque, pra mente do Isaac, não ter essa informação, não conviver com o término da pasta, do fio, de qualquer coisa, é como ler um livro até o fim e descobrir que alguém arrancou as últimas páginas. Meio que invalida toda a história. Sentia isso quando era estudante e alguém pedia a última mordida do sanduíche. Parece que fica faltando alguma coisa.

Aos poucos, com amor, carinho, compreensão e sem julgamento, vou conversando com ele sobre esses detalhes de personalidade, meus e dele. Hoje já conseguimos andar pela areia da praia e chegar ao outro lado e voltar sem que ele precise tocar a mão numa pedra no final da baía. Antes ele não conseguia. Se a gente resolvesse dar meia volta a alguns metros do paredão, ele corria até as pedras pra ~bater a mão~. Dependendo do meu humor eu vou até lá encostar na pedra, apesar de achar isso uma bobagem sem tamanho. Dependendo do humor dele ele abre mão do ritual.

O que conta, afinal, não é a lógica, mas o amor.
O amor prescinde de bom senso. O amor é absoluto. O amor aceita. Com alegria. E sem reclamar.
Um dia eu chego lá.^
Por enquanto eu só aprendi que sem sentido é viver sem conseguir amar.

 

E depois de uma hora, o que aconteceu?

Sou viciada em Twitter, como já é de domínio público. Minha luta contra o vício é a mesma da luta contra a gula. Continuo gostando de twittar e comer, mas me controlo tanto quanto possível para não virar uma esfera gigante e inerte com os dedos colados no teclado e os olhos colados na tela.

A favor do Twitter e do uso contínuo de redes sociais fica a desculpa de que, depois de uma hora twittando, ganhei muita coisa. Reforcei ligações pessoais, conheci gente nova, adquiri novas informações, produzi e absorvi ideias. Embora sempre seja possível passar uma hora inteira de inutilidades adquirir um pouco de informação é quase inevitável.

Infelizmente nem tudo o que a gente faz na Internet tem uma utilidade ou resultado prático. Em geral muitos prazeres que nos divertem não levam a nada. Até um jogo disputado de forma repetida e que ensina alguma técnica para jogar melhor e, quem sabe, lucrar com isso, pode ser considerado uma utilidade. O que mais acontece, no entanto, é que passamos muitas horas com coisas que não apenas são inúteis, mas até maléficas para o espírito. Ler fofocas requentadas, maledicências e boatos, reproduzir mentiras e idiotices, brigar com todo mundo são só alguns exemplos de como jogar sua vida fora, engordar a bunda, enrijecer as artérias e matar neurônios com ajuda da modernidade.

Uma pergunta pode nos ajudar a selecionar melhor o uso do nosso tempo: depois de uma hora fazendo essa atividade, qual vai ser o output?

Se eu passar uma hora limpando a casa, fazendo faxina nas minhas coisas, depois de uma hora eu terei:

.gastado calorias
.melhorado o ambiente
.removido sujeira
.evitado doenças.
.gerado felicidade estética
.enaltecido o espírito.
.economizado a faxineira.

Se eu passar uma hora fazendo tricô ou crochê, também terei bons subprodutos. Pode ser um cachecol, uma bolsinha, um conserto em uma roupa.

Ler um livro por uma hora é um treino para a tenção, um deleite para a imaginação, exercício e aprendizado.

E assim vai. Uma hora de exercícios físicos pode prolongar e melhorar a qualidade de vida, acrescentando saúde para seu corpo e sua mente.

E se você ficar uma hora jogando um joguinho no celular? Depois de uma hora passou uma hora, apenas. Você poderia ter ficado olhando para o relógio que o tempo teria passado e o outcome seria o mesmo: nada. Melhor dormir uma hora, que a ‘siesta’ melhora a digestão.

Uma hora no trânsito é irritante por isso. Um desperdício de vida útil sob pressão da cidade. Horrível. Uma hora em pé num ônibus, num trem ou metrô é igualmente terrível. Se pelo menos você puder ficar sentado ouvindo músicas ou notícias, lendo, já é uma vantagem.

Claro que uma boa hora de ócio é sensacional e necessária. Mas o ócio inútil também vicia. A preguiça é um vício como a gula, muito difícil de combater. Pior quando é algo quase genético, uma preguiça atávica que já vem no seu sistema operacional.

Gerenciar o tempo, parar para pensar na utilidade do que se está fazendo, aprender a se concentrar para realizar tarefas com eficiência no melhor tempo possível é uma arte quase perdida. A geração Y, especialmente, coloca o desejo acima de tudo, como se o que ela ~quer~fosse a melhor coisa para o mundo. Às vezes não é nem a melhor coisa pra ela, é só o ego no comando em busca de uma existência de hedonismo.

Sei que você não gastou uma hora lendo este post. A pergunta que fica é, o que você vai fazer com o resto dos minutos que você tem agora, até que uma hora se complete?

Pense nisso.
Tempo não é dinheiro, tempo é investimento de energia vital.
Escolha bem a forma como você vai usar seu tempo para que seu ócio não seja fatal.

Bom dia.

Sabe qual o sentimento mais comum dos seres humanos?

Na última sessão de coaching (tá, terapia, vamos facilitar a vida do querido leitor) minha terapeuta me fez uma pergunta. Se espremêssemos todos os seres humanos até extrairmos de todos nós um único problema, qual seria ele?

Antes da pergunta, ela contou uma situação que suponho ter sido real. Um psiquiatra num congresso só de médicos propôs isso. Pediu que a plateia imaginasse um funil. E, em seguida, os presentes pegassem todas as pessoas vivas do mundo, com todos os seus problemas, doenças mentais, inseguranças e tudo mais e passassem todo o povo por um funil bem fino. De tal modo que um único sentimento comum a todos passasse pelo bico fino do funil.

Que sentimento seria esse?, perguntou o psiquiatra palestrante.

Na hora eu pensei que fosse o medo. O mundo é tão movido pelo medo. O medo de morrer, de viver, de não conseguir, de não dar certo.

Mas não era essa a resposta. A resposta (hipotética, claro) que o psiquiatra deu foi….rejeição.

Fiquei meio passada porque se tem um problema que não passa muito pela minha cabeça ou, se passa, não está no meu Top Ten, é a rejeição.

Mas, ampliando um pouco a interpretação da palavra para comportar a tese, todo mundo tem medo de ser rejeitado. De não agradar. De não ser aprovado. De não ser querido. Amado.

Raciocinando pelo outro lado, todo mundo quer aplauso, amor, carinho, aprovação, colo, apupos (oi?), cafuné, elogios. Aí eu já começo a entender e concordar porque eu mesma busco sempre a mesma coisa, re-co-nhe-ci-men-to.

Então, se a rejeição é assim o ó-do-borogodó universal, isso explica muitos tweets.  Hoje mesmo estou às voltas com uma criatura x que se encaixa num perfil com o qual convivo há lustros e lustros. É a pessoa que pede alguma coisa, mas só tem o sim como alternativa. Ela queria mandar, exigir, mas como isso pega mal socialmente, a ‘ordem’ faz cosplay de pedidinho ou favorzinho, tipo lobo em pele de carneirinho. E aí o pedido vem. E eu não quero, não posso, não ligo ou qualquer outra combinação com não na frente. A pessoa, ao sentir-se rejeitada ou desprezada e não tendo energia para absorver o golpe, faz o que? Isso mesmo. Ataca. Desmerece a minha pessoa e o meu não dizendo que não valia a pena, que é isso que dá pedir coisas pra gente desqualificada e blá blá blá.

Ou seja, a pessoa está tentando se SALVAR. Está fazendo a única coisa que consegue com a pouca energia que tem. Está desprezando quem disse não ou quem a ignorou desvalorizando o emissor para sofrer menos.

Todo mundo faz isso o tempo todo com tudo. É como a pessoa que quer muito ir num restaurante ou show que ela considera caro porém essencial para elevar seu status e depois descobre que era uma bosta. O show, o restaurante, o produto. O que ela faz? Ela DEFENDE o produto, o show e fica puta com quem fala mal de qualquer um deles. Ela está tentando SE defender. Porque é muito difícil dizer ‘investi minha grana no show e tomei, como  sou imbecil’. Além de investir mal ela ainda tem que se sentir imbecil? Então ela tenta salvar ao menos sua imagem pessoal dizendo…

– ..eu gostei do show. Achei exótico. Legal. Acho lindo o sneaker que eu comprei. A comida era diferente, mas era boa.

Aham. A gente sabe.

A gente entende porque tem compaixão. Mas cada um lida como pode.

Quem é mais seguro apenas diz:

– Cara, gastei 100 dilmas num restaurante e a comida era uma bosta. Achei que era legal porque o chef era hypado, mas fui lá conferir e perdi meu tempo e minha grana. Se eu fosse você pensaria antes de ir.

Mas isso só diz quem é crítico honesto de gastronomia, quem é seguro de si, quem sabe que não vai ter sua ‘imagem social manchada’ porque fez uma cagada. Sinceridade é privilégio de quem tem energia vital. E, olha, nem todo mundo tem.

Assim, é bom saber que o mundo é feito de pessoas inseguras, medrosas, apavoradas com a rejeição, imaturas e cheias de mimimi e dodói. Que não vão apenas chorar no cantinho quando forem rejeitadas, mas vão investir o resto de energia que ainda têm para ficar com raiva de você. Porque, convenhamos é mais cômodo ficar com raiva de quem rejeitou você do que conviver com a dor de ser rejeitado. Bem parecido com criança que quando tropeça na pedra xinga a pedra e diz ‘pedra feia!’. A pedra não é feia, ela é apenas uma pedra que nem perninhas tem. Foi a pessoinha que tropeçou nela. O certo seria o pai dizer que pedras existem e aprender a desviar delas pode economizar um bocado de sofrimento para o dedão.

Rejeição, quem diria, é o mal da humanidade.

Porque, né, somos todos tão importantes e essenciais que D’us nos fez imortais.

NOT.

PS – Por favor, não me rejeitem. Se gostou da crônica, compartilhe-a.

A arte perdida da noção

Noção vem do latim notionem, conceito, concepção, ideia, percepção. O substantivo tem como raiz o verbo noscere, , vir a saber, conhecer.

Ter noção é algo que precede o saber. É a percepção de que há algo para ser aprendido ou notado. Talvez a melhor palavra pra substituir noção seja a velha gíria ~simancol~. Antes mesmo de saber se pode ou não pode, se deve ou não deve, se é ou não é, você tem que ter o simancol para perceber que não sabe e não é hora de perguntar.

Exemplos? Infinitos.

Você encontra um amigo que não via há anos e ele está abraçado a uma jovem que não é a mesma mulher que ele um dia apresentou como sua esposa. A noção faz com que você note a diferença e, num átimo, perceba que as possibilidades para aquela garota podem ser conflitantes ou constrangedoras. Porque pode ser uma nova mulher, a filha dele, uma amiga, uma acompanhante paga, a irmã. Ou simplesmente alguém que ele não quer apresentar porque a vida é dele e ninguém tem nada com isso.

A pessoa sem noção e que além de tudo se acha engraçada, já chega atirando merda no ventilador:

– NOssa, fulano! Essa mulher não é a mesma que estava com você da última vez que eu te vi! Trocou a velha por uma mais nova, é filha da velha ou é só amante? KKKKK

Tem muita gente sem a menor noção.

Gente que não apenas não percebe que está sendo inconveniente como não LIGA pro fato de estar constrangendo você. Ela acha ENGRAÇADO. É aquela pessoa que fala de problemas intestinais durante o seu jantar e, quando alguém chama a atenção para o fato, ela argumenta com ‘o que é que tem? A comida vai virar cocô mesmo! ahahahah’.

Eu tenho absoluto PAVOR de gente assim. Pavor.

Porque a pessoa sem noção é um perigo. Pra ela e, principalmente, pros outros.

É como um bebê brincando com uma faca, uma criança com uma arma. Ela é um adulto sem cérebro que pode causar uma hecatombe social. Com a agravante de que, porque teve boa intenção em seus gestos, ela se sente INJUSTIÇADA quando você não curte a atitude dela.

Na minha infância, quando eu frequentava festas de bairro num clube alemão, convivi com muitos adultos sem noção. Gente alegre que tomava cerveja com salsicha no penico durante as festas, que levantava os vestidos das mulheres pra mostrar a calcinha, que dançava com a vassoura no baile. Lembro de uma espécie de tio sem noção que achava engraçado cutucar todas as pessoas no umbigo. Sério, gente, ele achava isso muito sensacional. E todo mundo achava constrangedor, desagradável, deselegante e até dolorido. Imagine um cara bêbado no salão enfiando o indicador no seu umbigo com uma mão e tomando chopp num penico com a outra. Felizmente sempre fugi dessas brincadeiras. Como eu disse, tenho pavor.

Hoje, pra meu desespero, é moda não ter noção. Existe todo um culto à falta de noção. Porque em módulo, uma pessoa totalmente sem noção é quase tão ‘genial’ aos olhos das pessoas como um Einstein. É igual só que ao contrário. (Se bem que o exemplo é meio ruim porque Einstein era meio sem noção em algumas coisas, pelo menos pelas biografias que eu já li dele. SAbe, pra compensar a genialidade como físico e matemático, ele tinha umas idiossincrasias. Enfim.)

Não ter noção, seja de forma espontânea ou intencional, acaba levando a pessoa ao tão buscado ‘patamar de fama’ que muitos procuram. Aliás, o atalho para a fama via ausência de miolos é de fácil acesso. Qualquer pessoa que, AGORA, fizer uma coisa tosca num ponto geográfico muito movimentado, pode estar nas manchetes nas próximas horas. É por isso que em volta das emissoras de TV, de jornais, rádios e demais veículos de mídia, sempre tem gente fantasiada, gritando, mostrando faixas. São pessoas desesperadas usando artifícios sem-noção para que alguém as perceba.

Aos olhos da modernidade eu também sou sem noção. Onde já se viu escrever um texto desse tamanho? Será que eu não sei que ninguém mais tem foco, paciência ou capacidade pra ler mais que 2 parágrafos? Sei sim. Eu estou escrevendo vários deles com a intenção de que todos os sem noção desistam do texto antes de chegarem aqui. É uma forma de me certificar que, se você ESTÁ LENDO ESTE TRECHO é porque você é uma pessoa COM noção. Que quer terminar de ler até o final, para chegar a uma possível conclusão.

E a conclusão, querido leitor, é simples. Ser civilizado é ter a noção de que o mundo não começou quando nascemos, não gira em torno de nós, não existe para realizar nossos desejos. É aprender a conter a curiosidade em detrimento do bem estar do próximo. É conter-se no sentido de caber-se, de ter cabimento. É estar contente no sentido de estar pleno, contendo tudo lhe cabe, mesmo que que seja menos do que gostaríamos.

A arte da noção está morrendo. Talvez deixe de ser usada, como o latim e vire uma língua que quase ninguém entende.
Seja o que D’us quiser.
Alea jacta est.

Um trocadilho não é uma ideia

Um trocadilho é só uma brincadeira de sons e sentidos.  Pode ser velho , muito velho, inédito, moderninho,infame, tanto faz. Um trocadilho é somente um trocadilho, uma brincadeira com palavras que vem e passa. Por mais elaborado que seja o trocadilho não é uma ideia. Quando as pessoas confundem trocadilhos com ideias e querem forçar a existência de uma ideia a partir de um trocadilho quase nunca dá certo.

Porque uma ideia, de verdade, é como uma entidade que quer existir e busca pessoas para ser materializada. Uma ideia existe para resolver um problema. Uma ideia é o sopro de um pequeno gênio que procura o artista, a inspiração de uma musa que o coloca num patamar criativo.

O trocadilho é um joguinho de inversão de sílabas, de rimas, de duplo sentido, de palavras homônimas homófonas. Veja uma lista de trocadilhos aqui.

Há várias classificações para o trocadilho, na verdade. Vale a leitura aqui. . O trocadilho tem até um nome mais pomposo, paranomásia.

Mas é só isso, uma coisa que nasce e fica no âmbito das palavras e seus significados. Não é a partir daí que se cria, se materializa uma ideia.

Cito aqui dois exemplos de ideias que começaram com trocadilhos e que não deram certo:

Casa dos Autistas e African Idol.

O primeiro foi um programa na MTV que acabou em processo e pedido de desculpas. Trocaram uma letra de Casa dos Artistas para Casa dos Autistas e, a partir do trocadilho sonoro tentaram fazer um programa que, bem não deu muito resultado positivo.

Outro exemplo é African Idol, um claro trocadilho com ‘American Idol’ para a agência Africa. Para fazer o formato caber no trocadilho, criaram um show de calouros para estagiários da agência. A reação nas redes sociais foi tão ruim que o projeto foi cancelado, com a explicação de que foi ~suspenso~.

Existem exemplos de trocadilhos que geraram ideias, acredito eu, mas é a exceção. A ideia é diferente. Ela precisa ficar em pé, ter consistência, atender a uma série de pré-requisitos e gerar novidades e soluções. Em geral, quando a gente não conhece um processo, acaba achando que tudo é muito fácil. Tem muita gente que pensa que fazer propaganda é fácil, é só bolar um trocadilho e fazer um slogan. Nâo têm ideia de tudo o que tem por trás.

Criar exige pesquisa, compreensão, visão, estudo. Existe, sim, um momento de eureka!, de insight, de epifania, que só vem com muito esforço e trabalho. É como se depois de absorver uma avalanche de informação você esquecesse tudo. Depois, só o essencial fica e é a partir daí que as ideias começam a aparecer.

Eu sei que o humor que faz sucesso com muita gente é diferente. Muitas vezes o humor que dá certo na TV, na Internet é aquele que representa o que o povo quer, mesmo sem ser original. Existe um humor que funciona que é a associação óbvia, a primeira que vem à cabeça. Mas normalmente, você deve jogar fora as primeiras doze, quinze ideias e associações óbvias que vêm à cabeça, pra que depois comecem a surgir as coisas que realmente interessam.

Cada um tem seu processo e eu não sou dona da verdade.
Só sei que forçar uma ideia completa a partir de um trocadilho é como tentar encaixar uma tampa quadrada num pote redondo.

A Internet é nosso fogo

Lá vou eu arrumar mais alguns inimigos. Sim, porque, você sabe como o mundo está funcionando neste momento, em modo desinteligência. Aprendi com o @cardoso que a palavra recorrentemente usada no programa Polícia24 horas, ‘desinteligência’, quer dizer desentendimento, briga, discussão. O conceito se espalhou e agora tudo é assim, da desinteligência à desnoção. A avalanche de informação que chegou com a Internet para nos aculturar acabou por nos confundir. O que vemos hoje é um monte de gente que tem acesso a um milhão de informações, mas confunde os primeiros 500 mil com a outra metade e aí dá no que está dando.

Exemplos? Pra já.

Sinceridade. É bacana sem sincero. Aprendi lá nos anos 60 que sincero veio do latim, sem cera. Os alunos romanos escreviam em tabuinhas cobertas de cera, como pequenas lousas. Se não me engano (Let Me Google That For You, ou, no caso, pra mim mesma) tabula rasa também vem daí. Pessoas sem cera eram tábuas limpas, que nunca haviam sido escritas e reescritas. Eram pessoas limpas. Bacana gente sincera, né? Sinceramente, eu acho. Mas como o equilíbrio vem antes da lógica, não dá pra ser sincero de menos e sem de mais. E é aqui que entra a primeira confusão. Ser SINCERA DEMAIS, falar TUDO o que pensa não é bom pra ninguém. Porque isso não é sinceridade é o chamado sincericídio. Tem que ter um mínimo de filtro em tudo. Filtro solar, filtro de Instagram, coador Mellita, tudo requer um mínimo de filtragem. O buraco na cama de ozônio que deixa de filtrar os raios solares causa até câncer de pele. Por isso usamos cremes com filtros sobre a pele. Tem que filtrar MINIMAMENTE pra conviver socialmente.

Mas muita gente confunde sinceridade com falta de filtro social e diz TUDO O QUE PENSA DO JEITO QUE PENSA. E aí saem coisas lindas, como hoje o site Fuxico publicando the following:

Sim, sim eu entendo. Burra eu não sou. Embora eu seja uma crítica cruel sou uma observadora condescendente. Eu sei que o Fuxico é um site e como todo site vive em busca de cliques. Trabalho por eles também. Eu sei que a Geisy fala o que quiser, que a vida e o corpo são dela, concordo totalmente. Apoei-a veementemente quando ela foi hostilizada. Fiz campanha no Twibbon pra ela. E, como uma prima mais velha, tenho vontade de dar alguns toques pra ela. Só que, nem sei se ela os quer. Então, ficamos assim, ela fala o que quiser. Eu também.

Eu sei que em última instância sempre tem a explicação de que ‘isso pode ajudar outras mulheres que sofrem do mesmo problema’ e tudo mais. Verdade. Mas há formas melhores e piores de fazer as coisas, lugares mais e menos adequados de abordá-los. Quando você recebe um presente de um amigo e você não gosta muito, você diz ‘obrigada, mas eu detesto esta cor?’. Não, você não diz. Porque você pode, mas não PRECISA ser sincero a ponto de chocar, ofender, ser grotesco. Existem jeitos de fazer as coisas, como bem sabem as enfermeiras que tiram sangue do braço pra fazer exame. Em tese é só enfiar a agulha na veia, mas QUE DIFERENÇA faz quando a mão é leve e a técnica é boa! (falou a rainha-sem-veias experiente em hematomas).

Outro exemplo é o famoso ‘liguei o foda-se; agora é assim eu boto tudo pra fora pra não ficar doente!’. Sim, existem teorias que dizem mesmo que os sentimentos que a gente guarda, retém, podem nos fazer mal, causar doenças. Verdade, causa mesmo. Mas viver em sociedade é controlar impulsos. (Minha terapeuta mandou eu ler uns textos do Norbert Elias sobre civilidade e sobre seu fim) Ela mesmo (minha terapeuta) citou uma cena do filme A Guerra do Fogo que acabei de achar no YouTube. Como diz o texto em francês, a imagem fala por si.

Então, esse é a mostra primitiva do ‘sentiu – fez’ sem filtros. O homem primitivo, animalesco, vê a nudez da mulher, sente desejo e pá, pronto. Foi lá e fez. Como fazem os bichos.

Mas…não somos bichos, somos? Fomos, éramos, mas havíamos passado por um longo processo ainda em andamento, o processo de civilização, não?

Pois parece que junto com a desinteligência e a desnoção chegou a descivilização. Descivilização é quando a pessoa acha que dizer tudo o que ela pensa do jeito que ela pensa, em qualquer lugar, a qualquer hora e pra qualquer um, é ‘bacana’, é sincero.

Descivilização é quando a pessoa acha que se ela sentiu, tem que botar pra fora, do jeito que veio, sem pensar no lugar, na hora, em quem está em volta. É achar que ‘foda-se’ é ‘fodam-se todos porque em primeiro lugar vem o que eu penso e sinto’. Agora imagine 7 bilhões pensando e agindo assim.

E já que estou aqui chutando cachepots, vamos fundo. Já que estamos falando sobre pessoas entrevistadas pela mídia tweetando links com textos que comentam sobre photoshop de vagina, técnicas para colocar excesso de volta a seus orifícios originais, vamos adiante. Vou ilustrar essa nova técnica de descivilização momentânea:

Lindo, não? Ah, mas coitada, dirão alguns. Ela tava apertada! Ela é louca! Ela é uma senhora. Bom, eu acho que isso tudo pode ser verdade, mas não é aceitável. Ou, se ela realmente teve um problema incontrolável, instantâneo e teve que fazer isto, por que ela não recolheu e limpou o que fez? O mínimo, o mínimo da civilização é você consertar seus erros e limpar sua sujeira, não? Ou arrumar um jeito de não deixar para o OUTRO. A menos que ela esteja sob ação de psicotrópicos (nem se fala mais isso, céus!), ou fora de sua consciência, aí ela seria inimputável.

Pois olha, eu acho ótimo poder falar disso agora. Ainda mais nesse momento em que lutar por um pouco de civilidade é chamado pelo trupe descivilizatória de ‘arrogância’. Sim, porque é arrogância pedir um pouco de noção.

Hoje, buscando a cena da Guerra do fogo, tive uma epifania. Um insight:

A INTERNET É NOSSO FOGO.

Tem a tribo que domina a Internet e tem gente que ainda não descobriu o fogo.
Tem gente que deixa a Internet ligada o tempo todo, sem parar, sem jamais tirar da tomada ou desligar o roteador, como quem tem MEDO de apagar o fogo e não conseguir mais produzí-lo.

A Internet é nosso fogo. Ela nos ilumina, nos aquece, nos dá conforto. Cozinha nosso alimento.
A Internet é nosso fogo, nosso elemento.

Amo a Internet e sempre digo que é a última chance do ser humano dar certo como projeto no mundo.
Só que o fogo também se alastra e devasta, queima tudo.
Porque não é só o caso de DESCOBRIR o fogo, mas de saber lidar com ele. Saber domá-lo, domesticá-lo, controlá-lo, usá-lo com sabedoria pra não se chamuscar.

A Internet é nosso fogo.
E é um passo adiante para nossa civilização.
Isso, se a civilização quiser mesmo permanecer civilizada.
Talvez não queira.
Talvez a massa queira volta atrás e falar tudo o que vem na cabeça, botar todos os sentimentos pra fora, gritar, fazer barraco, rodar a baiana. Talvez a nova massa humana queira destruir a cultura, acabar com o conhecimento e ficar apenas rindo de tosqueiras 24 horas por dia, como no filme (ou documentário?) Idiocracy.

A Internet é nosso fogo.
A falta de noção é nossa fogueira.
Joana D’arc, quero ser não.

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A vida é um mar de ordens, comandos, apelos, pedidos, convocações. A mídia inteira, seja na Internet, no rádio, jornais, revistas, TV, é permeada de frases, verbos, argumentos que tentam fazer com que você reaja a eles. Até nos lugares ocupados por nós mesmos, como no Twitter, acabamos reproduzindo o mesmo padrão. Somos nós dando ordens uns aos outros.

E sabe o que é mais incrível? Funciona.

Outro dia li uma pesquisa dizendo que se você escrever ‘dê um RT’ num tweet, o número de retweets é cerca de 10 a 12 vezes maior do que se você não pedir nada. Fiz a experiência e funciona mesmo! E por que isso acontece? Por que obedecemos comandos com tanta facilidade?

São muitas razões, mas uma delas é a nossa reatividade. Todos nós somos muito reativos. Reagimos o tempo todo, a tudo e a todos. Estamos condicionados a ver placas dizendo que não é para passar, não é pra pisar, não podemos virar, não podemos estacionar, temos que parar, etc. Toda a civilização é feita de leis, ordens e comandos. Sem isso não existiria civilização. Aliás, uma definição de civilização é essa, o quanto uma sociedade consegue reprimir seus desejos e obedecer comandos visando o bem coletivo.

Além da nossa forma reativa também somos julgadores. Aquele? Um idiota. Aquela? Uma vaca. O cara? Culpado, lógico. Essa música? Um horror. O filme? Amei de paixão. Sobre tudo temos não apenas uma opinião, mas uma opinião instantânea, um julgamento imediato, mesmo quando não sabemos nem do que estamos falando.

Estamos sempre prontos para achar alguma coisa sobre tudo. Parece que não preferimos ser aquela metamorfose ambulante, já que temos nossas (novas) opiniões formadas sobre tudo.

E assim nos viciamos em viver a vida que não dão e que nos solicitam. E nos tornamos escravos de todos, voluntariamente. Rimos das piadas que são contadas, assistimos o que a TV exibe, seguimos conselhos que nossos amigos nos dão, compramos o que a mídia sugere, copiamos os hábitos dos famosos que gostamos, comentamos as notícias que são publicadas, comemos o que tem no cardápio e, quando percebemos já não temos vontade própria. Não temos ideias próprias. Não fazemos nada por nós mesmos, apenas …seguimos.

Hoje vemos um exército de pessoas (e muitas vezes somos nós essas pessoas também) que seguem todos os comandos e assuntos ditados pelos outros.

É como se todos nós tivéssemos abdicado de ter ideias originais em detrimento de pertencer à massa que comenta a vida pronta que nos dão.

Pense no seu dia. Nos assuntos que você comentou. Quem escolheu esses assuntos todos, você ou os outros? Você fala da novela, do programa da TV, do assassino do momento, da notícia do jornal? Você come o que viu no anúncio, toma o que o comercial mandou, compra o que a celebridade usa? Então você está permitindo que digam como viver sua vida.

Claro, somos todos influenciáveis, é normal. Mas… 100%?

Acho que estamos reclamando muito sem olhar nosso comportamento totalmente passivo. Até nisso estamos seguindo ideias alheias, daqueles que já previram o comportamento de rebanho.

Não sei o que você acha, mas hoje parece um bom dia para resgatar nossa vida de volta para nosso comando.

Afinal, o que é o tempo? Como ele passa?

O tempo é uma coordenada.
O tempo é uma variável.
O tempo é um conceito.
O tempo é relativo.
O tempo passa.

Passa? Como assim, passa? Ele passa mesmo ou ele passa pra nós, seres vivos? Ele passa igual pra todo mundo? Passa sempre igual, de forma homogênea? O tempo, como demonstrou Einstein, depende da velocidade mesmo? Você conhece o Paradoxo dos gêmeos (relatividade), em que um fica na Terra e o outro viaja próximo à velocidade da luz e, ao se reencontrarem, o que viajou está muito mais ‘jovem’ que o que ficou?
E por que em alguns momentos o tempo voa e em outros o tempo se arrasta?

Esta questão sempre intrigou o ser humano, finito e mortal. Não tem um ser humano vivo que nunca pensou em dilatar o tempo, em viver eternamente, em controlar a passagem do tempo para não envelhecer. Nossa vida é, enfim, uma relação com o tempo e os acontecimentos nessa ‘timeline’.

Pois ontem, eu li um texto do Daily Mail falando de um estudo sobre a percepção cerebral que temos da passagem do tempo. (Em português, aqui )

A primeira frase que chama a atenção é esta:

Quer dizer, o tempo não é percebido de forma homogênea. Cada circuito cerebral ~cuidaria~ de um tipo de atividade e sua relação temporal. Isso explica porque o jogo de futebol passa tão depressa em 90 minutos e a aula demora uma eternidade.

Além da sensação heterogênea da passagem do tempo, também temos todo um julgamento a respeito do uso do tempo, ligado à nossa eterna pressa.

Veja o caso de um curso, por exemplo. Tem gente que só de saber que um curso dura 4 anos já desiste. Ela só faz curso que dure 2 semanas, 3 dias, 8 horas. É como ter ~medo~ de ficar preso a alguma coisa durante muito tempo.

Nossa sociedade não quer investir tempo, só dinheiro. Por isso tanta gente faz dietas loucas pra ‘caber no vestido até o casamento’ em vez de fazer reeducação alimentar. Por isso tem gente que faz ‘quatro lipos’ em vez de investir anos numa dieta balanceada. O ser humano tem pressa, quer pra já, pra agora, pra ontem. Quer sucesso instantâneo, como um raio de sorte que lhe cai sobre a cabeça. Quer a mágica, o truque, não quer a experiência.

E a Internet, as redes, alteram ainda mais nossa percepção temporal. Acho que os circuitos neurais se atrapalham com um corpo físico que é mais lento e um meio eletrônico veloz. Dá curto nos circuitos. E aí a temporalidade vai pro ralo.

Por isso acho tão importante sair um pouco da Internet, deixar o celular de lado e caminhar, passear, fazer trabalhos manuais, cozinhar, brincar com os animais, aproveitar a natureza, fazer esporte. Porque você tem que atravessar uma distância caminhando. Porque vai ver que sua velocidade é baixa e limitada e vai se adaptar à sua realidade corporal em vez de configurar o seu padrão pela rapidez dos seus pensamentos.

Enfim, o texto do post está ficando grande e você não tem tempo, não é mesmo?
Mas, tudo bem. Se você se desestressa você vai ganhar esse tempo perdido.

Bom dia.
E, olha, devagar, tá?

E assim a Midiosfera vai, todo mundo entra e ninguém sai

Olhei minha timeline no Twitter e vi esse micropost:

E pensei:

– Mas por que a mídia continua falando de Jesus Luz? Ele só ficou conhecido porque teve um whatever, casinho, ~affair~ com a Madonna. Acabou o caso, acabou a fama, certo? Errado. Cessa a causa, mas não cessa o efeito. deve ser que nem estrela no céu, que já morreu, apagou, mas a luz ainda continua viajando por muitos anos e a gente ACHA que a luz é da estrela. A estrela, no caso, é a Madonna, que já apagou a luz do Jesus. Só que, pra mídia brasileira, ele SEMPRE vai pauta pra quando não tem pauta.

Segui e vi outro tweet:

Oi? A filha da Whitney Houston está grávida do irmão adotivo? Ah! Entendi. Ela é NOIVA do irmão adotivo. E o texto ainda diz que Whitney vai ser ‘vovó duas vezes’. Morta, mas vai ser avó, a-ham. Aqui tive outro pensamento. Todo mundo que orbita em torno de alguém que é ou foi famoso também é notícia pra quando não se tem notícia.

Quer dizer, olha que louco esse mundo infinito da mídia, essa camada espessa chamada Midiosfera que nos cerca. Todo mundo entra e ninguém sai. Foi famoso um dia? Continua sendo pauta. Foi famoso por UM dia? Continua sendo pauta? Não é ninguém, não tem importância, não faz nada, não tem carreira, mas ‘apareceu’ por algum motivo, de show a crime? Vai continuar sendo pauta de sites, blogs e redes sociais.

Não era assim, mas agora é. Por causa do tempo e espaço. Isso, mídia é baseada em tempo e espaço. Tempo de exposição num determinado espaço. Você compra mídia assim, tantas inserções de tantos segundos em tal intervalo, ou tantos centímetros quadrados durante tanto tempo em determinado lugar.

No começo da TV, só havia os canais abertos, não tinha TV a cabo no Brasil. Então o número de comerciais possíveis era fixo, sempre no break, separando os ‘conteúdos’. Era o que dava pra faturar. E tinham os patrocínios e oferecimentos. Aí vieram os merchandisings dentro do conteúdo. O espaço foi aumentando. Mas ainda era pouco. Pouco espaço, pouco faturamento porque tinha pouca ‘mídia’, poucos meios de comunicação e, consequentemente, de publicidade.

O número de tvs foi aumentando, o número de jornais e seus anúncios também, o número de revistas e suas infinitas páginas de anúncios, as rádios em todo o Brasil. E em 1995 começou a Internet no Brasil. E começou o processo de ‘boom’ de espaço.

A Internet, embora feita de servidores físicos e tudo mais, é praticamente infinita. De dezenas de canais, centenas de rádios, milhares de jornais e revistas, passamos para milhões, bilhões de sites, blogs, microblos, páginas. E bilhões de pessoas consumindo essa mídia. Não tinha conteúdo pra TANTO espaço. E como ocupar todo esse espaço sem ter notícias? Primeiro, replicando as mesmas notícias várias vezes. De diferentes formas, mudando aqui e ali, mas republicando. É como pegar uma imagem e usar em ‘tile’, cobrindo toda a área. Notícias como azulejos.

Mesmo assim, não dava conta da ocupação de tanto espaço, não atendia tanta demanda. E aí (olha, eu estou escrevendo uma coisa de forma bem simplista e tonta ok, não é um tratado, pfv) tudo virou notícia, assunto. Tudo e todos. Não só os artistas, mas todos os seus agregados, todos os que se relacionam com eles. E todos os participantes de reality shows, e todo o elenco de apoio, todos os funcionários dos bastidores, toda a população, todo mundo. É democrático e faz sentido: à medida que todo mundo pode ter sua mídia, todo mundo vira notícia!

A famoooosa previsão do Andy Warhol de 15 minutos de fama para todos já acontece e, de forma diferente. Nâo é que todo mundo vai ter 15 minutos de fama na grande midia, mas que todo mundo vai ter acesso à própria midia e chamar atenção de um grande número de pessoas pelo menos por 15 minutos. Porque agora não estamos mais limitados a esses minutos em termos de acesso, temos o tempo TODO. Só que, nem sempre chamamos a atenção de muitos. Esses 15 minutos seriam o nosso ‘pico’ máximo de audiência.

A mídia, hoje, é infinita. Ela precisa de assunto o tempo todo e, quando não tem nada de relevante, vai qualquer coisa.

São milhões de olhos e ouvidos e bocas para serem sustentados com informação ininterrupta. E, como acontece com os alimentos, quando você não tem nada gostoso ou nutritivo, come o que tem mesmo.

O que as pessoas não querem é passar fome de informação, de assuntos do dia. Os dias, aliás, já nascem com tags prontas. Você acorda e hoje já é dia da pizza, do botão, da passamanaria, da salada de pepino, dia da bigorna. Os dias já chegam assim, ‘assuntados’. É como uma prevenção, caso você não tenha assunto nenhum pra conversar, já recebe um tema tonto pronto.

E a midiosfera infinita assim vai.
Todo mundo entra. E nem morto ninguém sai.