Brasileiro adora humor. Adora. O humor é relaxante, envolvente, esperto. Ter bom humor é imprescindível para ter saúde física e mental. O fato de sermos um povo cheio de bom humor é um aspecto vantajoso, em todos os sentidos.
Fazer humor é uma arte. Tem gente que já nasce com o dom. Em geral, quando isso acontece, a pessoa passa a vida toda ouvindo dos outros que ela é engraçada, uma figura, etc. A família sempre sabe quem é o comediante da turminha.
Além das pessoas com dom para o humor existem também aqueles que querem ser engraçados mesmo sem talento. É exatamente como o dom da voz. Todo mundo gosta de cantar, inclusive quem canta muito mal. Na maioria dos casos, quem canta mal acha que canta bem, da mesma forma que gente sem graça se acha superengraçado. Mas, beleza, todo mundo tem direito a ser feliz do jeito que bem entender, não estamos numa competição de piadas nem num show de calouros. 🙂
Entre o humor e a graça, no entanto, existem várias outras nuances, como a gozação, por exemplo. Gozação não é exatamente humor. É humor com encheção de saco. Noventa por centro da graça do futebol, segundo a maioria dos torcedores, está em encher o saco e fazer gozação com os colegas do time perdedor. Tem gente que sente mais prazer em gozar o colega quando seu time perde do que quando seu próprio time ganha.
Está tudo muito bom, está tudo muito bem. Eu só tenho uma pergunta: quando chega a parte, também muito bacana, em que encaramos tudo com seriedade? Quando chega o momento de dizer, ok, chega de recreio, vamos voltar ao trabalho, aquele momento em que a gente toma vergonha na cara e vai cuidar do bem público, mudar de atitude, construir um mundo melhor. Não acho que estamos mais civilizados como sociedade. Não acho que estamos mais conscientes. Não acho que estamos evoluindo numa série de questões de cidadania e vida coletiva.
Eu realmente acredito que o Brasil possa encontrar esse caminho e ser um país sério. No sentido de ser levado a sério, inclusive. Sem ter que perder seu bom humor, sua ginga e sabedoria intuitiva. Talvez o que esteja faltando seja só um pouco de limite e semancol. Aquele remédio que faz com que a pessoa perceba que está contando uma piada velha pela milésima vez e não o faça. Aquele limite que acorda a consciência e faz a pessoa caminhar mais alguns passos até a lixeira sem jogar o lixo no chão. Não é muita coisa. É só acordar para não fazer tantas coisas ruins para nós mesmos.
Nesse final de ano eu queria pedir para o Brasil um pouco mais de civilidade. Um equilíbrio entre o bom humor e a seriedade. Até porque são as pausas sérias que valorizam os momentos de humor. E, acredite, estou falando isso sem gozação.
Acorda, Brasil. Cresce, Brasil. Brincar é gostoso. Mas está na hora de ir pra escola.
Bom dia.
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