Olhei minha timeline no Twitter e vi esse micropost:
E pensei:
– Mas por que a mídia continua falando de Jesus Luz? Ele só ficou conhecido porque teve um whatever, casinho, ~affair~ com a Madonna. Acabou o caso, acabou a fama, certo? Errado. Cessa a causa, mas não cessa o efeito. deve ser que nem estrela no céu, que já morreu, apagou, mas a luz ainda continua viajando por muitos anos e a gente ACHA que a luz é da estrela. A estrela, no caso, é a Madonna, que já apagou a luz do Jesus. Só que, pra mídia brasileira, ele SEMPRE vai pauta pra quando não tem pauta.
Segui e vi outro tweet:
Oi? A filha da Whitney Houston está grávida do irmão adotivo? Ah! Entendi. Ela é NOIVA do irmão adotivo. E o texto ainda diz que Whitney vai ser ‘vovó duas vezes’. Morta, mas vai ser avó, a-ham. Aqui tive outro pensamento. Todo mundo que orbita em torno de alguém que é ou foi famoso também é notícia pra quando não se tem notícia.
Quer dizer, olha que louco esse mundo infinito da mídia, essa camada espessa chamada Midiosfera que nos cerca. Todo mundo entra e ninguém sai. Foi famoso um dia? Continua sendo pauta. Foi famoso por UM dia? Continua sendo pauta? Não é ninguém, não tem importância, não faz nada, não tem carreira, mas ‘apareceu’ por algum motivo, de show a crime? Vai continuar sendo pauta de sites, blogs e redes sociais.
Não era assim, mas agora é. Por causa do tempo e espaço. Isso, mídia é baseada em tempo e espaço. Tempo de exposição num determinado espaço. Você compra mídia assim, tantas inserções de tantos segundos em tal intervalo, ou tantos centímetros quadrados durante tanto tempo em determinado lugar.
No começo da TV, só havia os canais abertos, não tinha TV a cabo no Brasil. Então o número de comerciais possíveis era fixo, sempre no break, separando os ‘conteúdos’. Era o que dava pra faturar. E tinham os patrocínios e oferecimentos. Aí vieram os merchandisings dentro do conteúdo. O espaço foi aumentando. Mas ainda era pouco. Pouco espaço, pouco faturamento porque tinha pouca ‘mídia’, poucos meios de comunicação e, consequentemente, de publicidade.
O número de tvs foi aumentando, o número de jornais e seus anúncios também, o número de revistas e suas infinitas páginas de anúncios, as rádios em todo o Brasil. E em 1995 começou a Internet no Brasil. E começou o processo de ‘boom’ de espaço.
A Internet, embora feita de servidores físicos e tudo mais, é praticamente infinita. De dezenas de canais, centenas de rádios, milhares de jornais e revistas, passamos para milhões, bilhões de sites, blogs, microblos, páginas. E bilhões de pessoas consumindo essa mídia. Não tinha conteúdo pra TANTO espaço. E como ocupar todo esse espaço sem ter notícias? Primeiro, replicando as mesmas notícias várias vezes. De diferentes formas, mudando aqui e ali, mas republicando. É como pegar uma imagem e usar em ‘tile’, cobrindo toda a área. Notícias como azulejos.
Mesmo assim, não dava conta da ocupação de tanto espaço, não atendia tanta demanda. E aí (olha, eu estou escrevendo uma coisa de forma bem simplista e tonta ok, não é um tratado, pfv) tudo virou notícia, assunto. Tudo e todos. Não só os artistas, mas todos os seus agregados, todos os que se relacionam com eles. E todos os participantes de reality shows, e todo o elenco de apoio, todos os funcionários dos bastidores, toda a população, todo mundo. É democrático e faz sentido: à medida que todo mundo pode ter sua mídia, todo mundo vira notícia!
A famoooosa previsão do Andy Warhol de 15 minutos de fama para todos já acontece e, de forma diferente. Nâo é que todo mundo vai ter 15 minutos de fama na grande midia, mas que todo mundo vai ter acesso à própria midia e chamar atenção de um grande número de pessoas pelo menos por 15 minutos. Porque agora não estamos mais limitados a esses minutos em termos de acesso, temos o tempo TODO. Só que, nem sempre chamamos a atenção de muitos. Esses 15 minutos seriam o nosso ‘pico’ máximo de audiência.
A mídia, hoje, é infinita. Ela precisa de assunto o tempo todo e, quando não tem nada de relevante, vai qualquer coisa.
São milhões de olhos e ouvidos e bocas para serem sustentados com informação ininterrupta. E, como acontece com os alimentos, quando você não tem nada gostoso ou nutritivo, come o que tem mesmo.
O que as pessoas não querem é passar fome de informação, de assuntos do dia. Os dias, aliás, já nascem com tags prontas. Você acorda e hoje já é dia da pizza, do botão, da passamanaria, da salada de pepino, dia da bigorna. Os dias já chegam assim, ‘assuntados’. É como uma prevenção, caso você não tenha assunto nenhum pra conversar, já recebe um tema tonto pronto.
E a midiosfera infinita assim vai.
Todo mundo entra. E nem morto ninguém sai.
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