No começo dos anos 60, o matemático e meteorologista americano Edward Lorenz, professor do renomado Massachusetts Institute of Technology, o MIT, percebeu que em modelos de sistemas dinâmicos, como o da atmosfera, uma pequena mudança poderia desencadear resultados amplos e imprevisíveis.
Ele concluiu que na meteorologia era fundamentalmente impossível prever o tempo com duas ou três semanas dentro da precisão mínima razoável.
Foi a partir de seus profundos estudos matemáticos sobre a imprevisibilidade que Lorentz publicou em 1972, um trabalho intitulado “Predictability: Does the Flap of a Butterfly’s Wings in Brazil Set Off a Tornado in Texas?” (Previsibilidade: o bater das asas de uma borboleta no Brasil pode desencadear um tornado no Texas?”).
Lorentz tornou-se assim, o pai do “Efeito Borboleta” (sim, tem o filme) e, mais importante, da Teoria do Caos, considerada por muitos cientistas como uma das três maiores revoluções da ciência do século XX, ao lado da relatividade e da mecânica quântica.
Agora vamos bater as asas e voar para a violência urbana e a virada cultural em São Paulo.
O que está acontecendo com São Paulo, com o Brasil, com o mundo? Estamos mais violentos ou apenas estamos percebendo agora uma realidade que sempre existiu e que estava escondida dos olhos da coletividade? E, mais do que compreender, como podemos alterar isso?
Minha impressão primeira é a de que a violência aumentou ou, pelo menos, há mais pessoas praticando violência. Uma amiga estava caminhando aqui no bairro na semana passada, ouvindo seu iPod quando um ‘noia’ apontou uma faca e pediu o celular. Assustada, ela tirou os fones e entregou o iPod avisando que não era um celular. Contrariado ele passou a faca e cortou a mão dela. Ela teve que ser atendida no pronto socorro, tomou injeção anti tetânica e levou pontos internos na mão.
Hoje, na aula de Pilates, contei essa história para Adriana, minha professora e, em seguida, e ela relatou que foi assaltada ontem pela manhã, em frente a sua casa. Dois garotos apontaram uma arma e levaram tudo o que estava com ela, relógio, celular, dinheiro. Adriana tem seguro do celular, mas não conseguiu fazer o B.O. online, talvez porque o sistema estivesse sobrecarregado por causa dos muitos furtos e roubos na Virada Cultural que aconteceu em São Paulo.
Eu não tenho competência para analisar a situação. Infelizmente parece que muitas autoridades e especialistas que deveriam ter competência para isso estão na mesma situação que eu.
Mesmo sem o conhecimento formal desse sistema dinâmico e caótico (e, portanto, imprevisível) que é a população de uma cidade acho que existem várias asas de borboletas batendo e que influenciam todo esse resultado. E uma dessas borboletas se chama educação.
Educação não é apenas dizer ‘bom dia, boa tarde, com licença, obrigada, desculpa’, como indica uma das acepções da palavra. E ‘ignorância’ não é apenas ser bruto e grosseiro. Estou falando da falta de educação escolar, da falta de estudo, de conhecimento básico sobre as coisas da vida e do mundo, da sociedade humana, que impede que muita gente viva sua plenitude e continue apenas sendo gerido pelos impulsos animais.
Eu tenho certeza que, salvo as exceções patológicas sem cura, um garoto que rouba ou dá uma facada poderia ter outro destino. Não acredito que todas as pessoas envolvidas com tráfico, violência, sejam ‘intrinsecamente’ ruins por vias genéticas. Acho mesmo que a vida que levam, as circunstâncias sociais em que são criadas, as experiências vividas estão ligadas ao caos futuro em que elas poderão se encontrar.
Tenho certeza que essa situação caótica social em que o Brasil se encontra, com tanta violência está SIM ligada não só a nossa história de miséria e corrupção, má distribuição de renda, mas a um dos corolários disso tudo, o fato de que METADE DA POPULAÇÃO ADULTA DO BRASIL ACIMA DE 25 ANOS NÃO TEM NEM O ENSINO FUNDAMENTAL COMPLETO. E isso são dados do IBGE de 2010, imagina na Copa…
(Sério, se tiver um tempo, ouça a entrevista com Maria de Salete Silva, coordenadora do programa de educação da Unicef no Brasil, falando sobre exclusão escolar. Um dos maiores fatores é o atraso escolar. Repetência e abandono. A escola não faz parte do projeto de vida dos jovens brasileiros.)
Acredito também que se o Brasil realmente tivesse interesse coletivo em obrigar todo mundo a terminar pelo menos o ensino fundamental, daqui a 20 anos teríamos um país diferente e MUITO melhor. Temos que lutar pelo direito de aprender e não pelo direito de ser ignorante!
Porque quem trilha o caminho do autoconhecimento, da descoberta do aprendizado, quem descobre as incríveis ferramentas que QUALQUER curso nos dá, seja um curso de desenho, de torno mecânico, de tecnologia da informação, cozinha básica, tricô, tanto FAZ, torna-se uma pessoa melhor, um ser humano melhor, com mais chances e possibilidades.
Não posso acreditar que um rapaz que rouba um iPhone e um par de tênis não tenha CAPACIDADE de aprender a usar redes sociais e conseguir um emprego pilotando um perfil de uma empresa no Twitter, só pra dar UM exemplo. Claro que tem. Mas é a mistura da preguiça, com a pressão social pelo resultado imediato, a falta de formação, o mau exemplo, a influência corrupta de seu meio, a desvalorização do conhecimento que causa tudo isso.
Enfim, gente, vamos começar a bater as asas das borboletas agora, pra que nos próximos 20 anos a gente possa desencadear uma avalanche de conhecimento, um tsunami de educação, um Brasil sem analfabetos, 200 milhões de pessoas com escolaridade mínima. CERTEZA que isso seria uma VIRADA CULTURAL E SOCIAL, a Grande VIRADA EDUCACIONAL!
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