Na última sessão de coaching (tá, terapia, vamos facilitar a vida do querido leitor) minha terapeuta me fez uma pergunta. Se espremêssemos todos os seres humanos até extrairmos de todos nós um único problema, qual seria ele?
Antes da pergunta, ela contou uma situação que suponho ter sido real. Um psiquiatra num congresso só de médicos propôs isso. Pediu que a plateia imaginasse um funil. E, em seguida, os presentes pegassem todas as pessoas vivas do mundo, com todos os seus problemas, doenças mentais, inseguranças e tudo mais e passassem todo o povo por um funil bem fino. De tal modo que um único sentimento comum a todos passasse pelo bico fino do funil.
Que sentimento seria esse?, perguntou o psiquiatra palestrante.
Na hora eu pensei que fosse o medo. O mundo é tão movido pelo medo. O medo de morrer, de viver, de não conseguir, de não dar certo.
Mas não era essa a resposta. A resposta (hipotética, claro) que o psiquiatra deu foi….rejeição.
Fiquei meio passada porque se tem um problema que não passa muito pela minha cabeça ou, se passa, não está no meu Top Ten, é a rejeição.
Mas, ampliando um pouco a interpretação da palavra para comportar a tese, todo mundo tem medo de ser rejeitado. De não agradar. De não ser aprovado. De não ser querido. Amado.
Raciocinando pelo outro lado, todo mundo quer aplauso, amor, carinho, aprovação, colo, apupos (oi?), cafuné, elogios. Aí eu já começo a entender e concordar porque eu mesma busco sempre a mesma coisa, re-co-nhe-ci-men-to.
Então, se a rejeição é assim o ó-do-borogodó universal, isso explica muitos tweets. Hoje mesmo estou às voltas com uma criatura x que se encaixa num perfil com o qual convivo há lustros e lustros. É a pessoa que pede alguma coisa, mas só tem o sim como alternativa. Ela queria mandar, exigir, mas como isso pega mal socialmente, a ‘ordem’ faz cosplay de pedidinho ou favorzinho, tipo lobo em pele de carneirinho. E aí o pedido vem. E eu não quero, não posso, não ligo ou qualquer outra combinação com não na frente. A pessoa, ao sentir-se rejeitada ou desprezada e não tendo energia para absorver o golpe, faz o que? Isso mesmo. Ataca. Desmerece a minha pessoa e o meu não dizendo que não valia a pena, que é isso que dá pedir coisas pra gente desqualificada e blá blá blá.
Ou seja, a pessoa está tentando se SALVAR. Está fazendo a única coisa que consegue com a pouca energia que tem. Está desprezando quem disse não ou quem a ignorou desvalorizando o emissor para sofrer menos.
Todo mundo faz isso o tempo todo com tudo. É como a pessoa que quer muito ir num restaurante ou show que ela considera caro porém essencial para elevar seu status e depois descobre que era uma bosta. O show, o restaurante, o produto. O que ela faz? Ela DEFENDE o produto, o show e fica puta com quem fala mal de qualquer um deles. Ela está tentando SE defender. Porque é muito difícil dizer ‘investi minha grana no show e tomei, como sou imbecil’. Além de investir mal ela ainda tem que se sentir imbecil? Então ela tenta salvar ao menos sua imagem pessoal dizendo…
– ..eu gostei do show. Achei exótico. Legal. Acho lindo o sneaker que eu comprei. A comida era diferente, mas era boa.
Aham. A gente sabe.
A gente entende porque tem compaixão. Mas cada um lida como pode.
Quem é mais seguro apenas diz:
– Cara, gastei 100 dilmas num restaurante e a comida era uma bosta. Achei que era legal porque o chef era hypado, mas fui lá conferir e perdi meu tempo e minha grana. Se eu fosse você pensaria antes de ir.
Mas isso só diz quem é crítico honesto de gastronomia, quem é seguro de si, quem sabe que não vai ter sua ‘imagem social manchada’ porque fez uma cagada. Sinceridade é privilégio de quem tem energia vital. E, olha, nem todo mundo tem.
Assim, é bom saber que o mundo é feito de pessoas inseguras, medrosas, apavoradas com a rejeição, imaturas e cheias de mimimi e dodói. Que não vão apenas chorar no cantinho quando forem rejeitadas, mas vão investir o resto de energia que ainda têm para ficar com raiva de você. Porque, convenhamos é mais cômodo ficar com raiva de quem rejeitou você do que conviver com a dor de ser rejeitado. Bem parecido com criança que quando tropeça na pedra xinga a pedra e diz ‘pedra feia!’. A pedra não é feia, ela é apenas uma pedra que nem perninhas tem. Foi a pessoinha que tropeçou nela. O certo seria o pai dizer que pedras existem e aprender a desviar delas pode economizar um bocado de sofrimento para o dedão.
Rejeição, quem diria, é o mal da humanidade.
Porque, né, somos todos tão importantes e essenciais que D’us nos fez imortais.
NOT.
PS – Por favor, não me rejeitem. Se gostou da crônica, compartilhe-a.
Você precisa fazer login para comentar.